Monday, February 04, 2008

Ninguém nos leva a sério, Swedenborg





Swedenborg
você revelou o segredo de Ulrica a seu irmão
descobrindo o lugar secreto de Marteville
e narrou minuciosamente o incêndio de Estocolmo
estando a 300 milhas inglesas de lá em Gotemburgo
de onde viu sua própria casa ameaçada pelo fogo

mas ninguém nos leva a sério, Swedenborg
a terra perde velocidade
e se derrete a calota polar
nós sabemos que a lua não é um satélite
e a sede da alma não está no corpo humano

todos sabem que mudou o nível dos oceanos
e apesar de nossa intimidade com o mundo elemental
ninguém nos leva a sério, Swedenborg
a terra perde velocidade
mas ninguém nos quer acreditar

* * *

O livro dos sonhos de Strindberg





Não acho o teu drömmar por estas ruas
te imagino andando dias inteiros no arquipélago de Kimemendö
a pensar nos crimes não previstos no código penal
mas que dão origem a uma culpa tortuosa
que não tem perdão no código religioso

a tempestade
sonata dos espectros

teatro onírico
teatro do sacrifício

solilóquio de interna dissonância
corpo finito matéria do infinito

teatro íntimo de Strindberg

sentir pensar agir:
sincronia de abismos

não acho o teu drömmar por estas ruas
mas te vejo completo em cada face de paisagens interiores

* * *

O país de Bergman





queria que este poema tivesse a densidade do teu sonho
e a concretude do Bergman criança em Uppsala
onde aprendeu sobre a inabilidade das pessoas para a convivência familiar

queria que os meus versos traduzissem o consolo da angústia fechada em si mesma
e da falta de amor que nos levou à poesia e ao cinema como obsessão
com a súbita explosão de verdades guardadas silenciosamente na memória perdida

queria que os pais nos tivessem posto no colo com maior ternura
e receberíamos talvez com suavidade o ríspido comando da máquina social
numa recuperação mais rápida diante da crueldade dos analfabetos emocionais

a luz que vejo além da vidraça é o caminho do sol filtrado pela vegetação
na parte exterior à casa as crianças se balançam como pêndulos atraídos às nuvens
e sabemos ao olhar as flores na grama que o paraíso e o inferno estão apenas dentro de nós

morangos silvestres/gritos e sussurros/sonata de outono/o sétimo selo
grandioso em face da miséria em torno foi o teu destaque para a interioridade humana
e eu escrevo em teu país estas palavras que se querem imagens das nossas almas

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