Sunday, July 17, 2011

Lucila Nogueira

Lucila Nogueira by agendadigai
Lucila Nogueira, a photo by agendadigai on Flickr.

com a ex-aluna e cantora Júlia Pessoa

Friday, January 22, 2010

LUCILA NOGUEIRA TABASCO



sexta-feira, 22 de Janeiro de 2010


Lucila Nogueira Tabasco

Francisco Soares

TABASCO

Está ainda pouco estudada, sobretudo para os não-brasileiros, uma geração pernambucana – talvez a última a definir-se geracionalmente. É conhecida como a geração de 65 e agrega personagens, obras, performances muito diversas. É, portanto, uma geração heterodoxa, multímoda, pluridisciplinar também – nisso antecipando o que se iria seguir. Muitos são os nomes associados a ela, como Alberto Cunha Melo, Ângelo Monteiro, Marcus Accioly, Maria de Lourdes Hortas, Paulo Brucsky (talvez o menos geracional), Tereza Tenório, vários outros nomes que agora não recordo e os que recordo citei por ordem alfabética.

Construiu Lucila Nogueira, ao longo dos anos, uma já longa obra enquanto poetisa (é também ensaísta e professora universitária), principalmente em verso. Também nos seus livros encontramos o cariz heterodoxo, heteróclito e heterogéneo da geração. Vivem eles entre o épico, o lírico e o dramático – predominando os dois primeiros modos.

Um dos mais recentes livros publicados intitula-se Tabasco e centra-se na América Latina, particularmente no antigo México e vizinhanças a sul. Editou-o em Paraty a Selo Off Flip no ano passado (creio estar o selo associado ao famoso festival internacional de poesia). A obra é estimulante para a crítica e a teoria literária, inserindo-se numa das linhas da sua autoria.

Talvez a primeira impressão do leitor seja a de uma cascata de frases atiradas pela janela (página), que nos ofuscam, deixando-nos algo perplexos, com a tal ruga na testa e a passar a mão pelo queixo. Só depois de lidas todas as páginas com atenção, retendo os fios de sentido que ligam e religam os fragmentos projetados sobre o nosso campo visual, é que percebemos que há até um percurso narrativo, que o poema não é só uma lírica de tons épicos mas também uma viagem e um macrotexto.

A disposição do conjunto organiza-se em 10 cantos, numa linhagem bem conhecida pelas literaturas lusófonas e que, por exemplo, Ungulani Ba Ka Khosa verteu para um híbrido (épico anti-épico e também lírico) moçambicano: Ualalapi. Não é esta a única semelhança, coincidência, com literaturas africanas lusófonas. Também M. António relata liricamente e em catadupas de imagens uma viagem (até que ponto imaginária) pela América, a do Norte, mas também a América mestiça, híbrida, dos antigos poderes, dos comandantes das guerrilhas, do melting pot que é hoje toda a América mesmo só por dentro, quero dizer, mesmo ignorando por instantes os emigrados mais recentes.

O principal recurso utilizado pelos dois poetas é o da colagem, da colagem em cascata. Isso é possível cada vez mais porque o advento de fenómenos globalizantes com a própria Internet, através da qual vocês estão a ler-me, desenvolveu-nos a prática de interseccionar imagens, fragmentos, unindo-os por fios de sentido momentâneos, alguns mais duradouros, mas em geral efémeros. É, de resto, o que nos acontece no quotidiano das cidades aceleradas, com tráfegos intensos, vidas apressadas, angústias instantâneas por vezes inexplicáveis: vamos apanhando os mais diversos estímulos, em catadupa e simultaneamente, apercebemo-nos de algumas ligações possíveis entre as 'coisas', outras percebemos porque estamos mesmo atentos a elas e, no geral, seguimos dois ou três fios de conduta que se relacionam genericamente com o nosso projeto de vida.

Desenvolvido esse mecanismo psicológico, hoje o poeta pode jogar-nos imagens fragmentárias umas a seguir às outras (com recursos informáticos algumas em simultâneo), sem ter que desenvolver alguma delas, sem ter que nos dar uma ligação explícita entre elas, porque nós apanhamo-las conforme lemos e vamos juntando no cesto, agrupando-as entre o aleatório e os tais fios de sentido, momentâneos ou mais extensos. Isto vem potenciar imenso o método ou processo poético da colagem, muito desenvolvido já pelas vanguardas artísticas do século XX em diversas disciplinas. A leitura efetiva-se, assim, por uma semiose reticular. As sinapses que dão registo ao conteúdo podem ser quaisquer umas, sendo no entanto que a sua definição determinará (minimamente que seja) um perfil semiótico e diacrítico.

No caso de Lucila Nogueira e de Tabasco há dois ou três liames recorrentes: o mítico, o espiritual, o mágico, a migração hiperbólica do «eu» (os deuses me continuam em Pomona), mesclada com breves instantâneos autobiográficos que nos dão sinal do percurso narrativo que estrutura subterraneamente esta lírica de tons épicos e arremessos iniciáticos. Tal como n'Os lusíadas a viagem começa a meio, mas neste caso do meio para o regresso, enquanto Camões vai do meio da ida para o início, depois para a previsão de um futuro histórico-mítico e finalmente para o regresso. Percebe-se que aqui o sujeito lírico é perturbado na sua viagem por telefonemas, preocupações, passagens de avião, dois dias de avião, retorno ao quotidiano do Recife, atribulado por um incidente que não se descortina aqui mas talvez em outra obra (talvez em Casta maladiva). A imersão no presente-passado histórico-mítico mexicano (contraposto ao presente-futuro histórico-mítico de Camões) é assim interrompida mas depois de se dar uma fusão essencial entre ambiente, história, mito, espírito, magia, diversão, amor, natureza – uma cópula cósmica operada a partir do sujeito poético, o operador da trama que o transcende.

Para quem se interesse em conhecer melhor a obra – vale a pena – a morada da editora é a seguinte: Selo Off Flip Editora L.da, CP 74901, 23970-000, Paraty, RJ, Brasil. Seguramente o preço de capa será mais baixo do que a viagem do livro até Angola, Cabo Verde, ou Moçambique, ou Portugal, ou São Tomé e Príncipe (para já não falar de Timor). Aproveite e mande vir mais dois ou três que, provavelmente, pagará o mesmo.

Boa leitura!

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TABASCO

Rei Berroa

He aquí varios de los dilemas que le plantea al lector Lucila Nogueira en este fascinante poemario que bien podríamos describir como una etnografía épico-poética de las culturas de Tabasco: ¿Cómo clasificar y descifrar el mundo y sus culturas desde este cuerpo en donde se maneja la lengua con todas sus intrincadas resonancias, desde esta anatomía nuestra tan pobremente diseñada? ¿Cómo contar el cuerpo de la historia de nuestras civilizaciones primigenias (olmecas, toltecas, mayas, mexicas) para celebrarlas con las mismas palabras que usamos hoy para ligarnos al presente o definirnos en futuro? ¿Qué postura tomar para salvar lo que podamos de su pasado, que es el nuestro, en esta crónica del vivir que sabemos fragmentado? Partiendo de estas cuestiones, la poeta se ha lanzado al galope en un vuelo visionario, atando los cabos del ahora con ese pasado monumental de la zona de Tabasco y su habitación de trópico húmedo.

Con este libro febril en que festeja la cultura del agua, Lucila Nogueira nos pone a todos de pie ante la fuerza ancestral de las cabezotas olmecas, nos obliga a estar atentos al relámpago del jaguar en la noche oscura del río mesoamericano o hace que tomemos la postura de la sorpresa erguidos e inmóviles como la ceiba o la iguana.

Con Tabasco, la poeta pernambucana ha logrado sacar a la luz, darle vitalidad poética a la extraordinaria coherencia de las culturas que nos precedieron en el tiempo y que le dan razón de ser a la mayafilia que ha experimentado el mundo desde que pudimos empezar a descifrar los laberintos cosmológicos de sus libros y centros ceremoniales. Si Grecia le dio a Europa un imaginario para sentar y representar su cosmogonía, los mayas y los olmecas le dieron a América una forma definitiva para imaginar a sus dioses u organizar su cadadía. En los diez cantos de Tabasco, la poeta viaja a las profundidades de ese monumento vegetal o pétreo que fueron estas civilizaciones y se eleva ella y nos eleva a todos en la más alta celebración de “los cuatro rumbos del universo mundo”.


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TABASCO: HERMOSA VISÃO DE UMA TERRA HERMANA

Johnny Martins*

Também trouxeram alguns casacos e saias, iguais às que eles usavam, e disseram que deveríamos aceitar essas coisas em grande quantidade, pois não tinham mais ouro para nos dar, mas que, para além, na direção do pôr-do-sol, havia abundância de ouro, e disseram: "Colua, Colua, Mejico, Mejico", porém nós não sabíamos o que poderia ser este Colua ou Mejico.1

Bernal Diaz Del Castillo (1492-1584), The True History of the Conquest of New Spain (The expedition under Juan de Grijalva: Discovery of Rio de Tabasco, Chapter VIII).


Quando, no início do século XVI, os espanhóis empreenderam a campanha de conquista da “Nova Espanha” ― hoje México ―, foram ironicamente auxiliados por um antigo mito local de que o deus Quetzalcoatl retornaria da direção de onde nasce o Sol para retomar seu lugar de governante do povo asteca. Tendo chegado a conhecer tal profecia, o conquistador Hermán Cortés aproveitou-se de várias coincidências para se insinuar como o esperado rei divino e se introduzir na corte do poderoso Montezuma. Embora contestada, essa versão da conquista do México é aceita por muitos historiadores. Verdadeira ou fruto da imaginação colonizadora, o fato é que Cortés subjugou vários povos nativos daquela região, entre eles os astecas, e os desdobramentos dessa história são suficientemente eloqüentes nas ruínas daquelas civilizações.

Cinco séculos depois daquele cumprimento inesperado da profecia, podemos ser levados por mais uma expedição exploratória ao México, mas desta vez o registro que nos é oferecido na obra intitulada Tabasco, da poeta Lucila Nogueira, converte a dominação em cumplicidade, a ganância em desejo e o estranhamento em identificação.

Tabasco é um dos Estados no Sul do México por onde se estendeu a civilização ― tecnológica e culturalmente ― mais avançada da América pré-colombiana: o Império Maia. E é essa região que surge como referência para uma quase epopéia dos entrelaçamentos culturais na América Latina, de antes e depois da colonização empreendida por coroas ibéricas, através de um eu lírico que alia história coletiva e individual.

Com um discurso poético prenhe de palavras com origem nas línguas indígenas da região de Tabasco e nomes de elementos de uma fauna e de uma flora incomum aos olhos brasileiros, o texto da obra, desde o início, de certo modo coloca o leitor na mesma posição de espanto daqueles conquistadores, descritos nos testemunhos do cronista espanhol Bernal Diaz Del Castillo, que não sabiam o que era o México.

Eu vi o garrobo

marido da iguana

eu vi os nenúfares nos pântanos de Cemtla

naveguei entre os manglares

entre as garças tabasquenhas

a jardineira atravessou as ruas durante a noite

eu cantava canções dos Beatles em português

terras e águas de Tabasco

o avião descendo em plantações

como quem entra em uma tela completamente verde

como quem chega ao Éden primordial

e sabe do poder da água e da chuva

assim cheguei a ti Villahermosa:

rios lagos charcos águas marinhas

A introdução da sucessão de imagens com esse “eu vi” não informa apenas experiências vividas através do verbo no pretérito perfeito, mas aponta também para um diálogo com as formas discursivas com que a Bíblia apresenta as profecias: “E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.” (Apocalipse do apóstolo S. João, 21:1). Acrescentemos a isso a referência às “canções dos Beatles em português” que reforça, não apenas a pluralidade de nossa formação cultural, mas, se nos lembrarmos do convite feito na letra da música Strawberry Fields Forever (“Deixa-me te levar, pois estou indo para os Campos de Morango./ Nada é real e não há nada para nos prender. / Campos de Morango para sempre.”2), também enfatiza a atmosfera de utopia que se estende por todos os dez cantos do poema e que surge já nos primeiros versos.

Na apresentação de uma coletânea de estudos sobre literatura e utopia3, Cordiviola e Cavalcanti (2006:10) refletem que a utopia encerra uma crítica ao estado de coisas do presente:

[...] o presente da enunciação fornece também as chaves para analisar os passados com espanto e indignação pelo que não foi, pelo que poderia ter sido, ou para recuperá-los com nostalgia por aquilo que supostamente teria acontecido em eras remotas, antes da irrupção das discórdias e das desigualdades. Assim, o caminho para afirmar uma ordem alternativa ou ideal é a crítica à ordem vigente.

Tal ponderação nos leva a estender o termo “utopia” não apenas a um futuro ideal imaginado, mas também a um passado representado com nostalgia, ao desejo de recuperar um Éden perdido. Esta obra de Lucila Nogueira funda novamente esse lugar paradisíaco, onde o nome da capital do Estado mexicano de Tabasco, Villahermosa ― “vila formosa” ―, assume dimensões simbólicas que vão apontar para uma nova “conquista” (“como quem chega ao Éden primordial / [...] assim cheguei a ti Villahermosa:”).

No caminho dessa aventura poeticamente utópica, milhares de anos de história e cultura são evocados e convergem para o espaço literário de Tabasco, desde as priscas eras de ancestrais das grandes civilizações pré-colombianas (“Olmecas / Zapotecas / Mixtecas / Mayas / Méxicas / Zoximilcas / cultura mãe fixada em Tabasco e Vera Cruz”), passando por referências a acontecimentos e personagens da época da colonização (“não me chamo Malinche nem Marina / mas também tenho o dom das línguas / que seduziu o conquistador”), até chegar a acontecimentos contemporâneos que causaram profundas transformações na região, como uma terrível inundação que atingiu o Estado de Tabasco em 2007, deixando 80% de seu território sob as águas:

a marca do dilúvio na biblioteca

a marca da cheia sobre o viaduto

e a cada esquina uma inscrição milenar

uma lição completa de resistência

*Tabasco de pé *

assim como tu cidade vista do alto

permaneço de pé

na luta e no desafio

permaneço de pé

meu rosto largo

quer ter a força ancestral de uma cabeça Olmeca

Numa voz que “quer ter a força ancestral de uma cabeça Olmeca”, Tabasco surge alinhado com demandas socioculturais contemporâneas, mantendo de pé “uma lição completa de resistência” que não pode ser ignorada ao se falar em utopia literária na América Latina. Nas palavras de Soares Silva (2006:347)4:

A condição latino-americana se consolida enquanto comunidade de agnação por um painel mínimo de confluência histórica, memórias comuns, que permite esse enlace. Sobretudo quando estão sublinhadas as heranças coloniais e pré-colombianas, permitindo a construção dessa identidade cultural, [...]

Desse modo, no poema, resistir não equivale a proibir o discurso do outro, mas a evitar dicotomias que ameacem calar mitos literários por conta de sua origem. Já não podemos fugir de certos desdobramentos da colonização e, uma vez que as línguas com que nós, latino-americanos, construímos nossa literatura são todas originalmente européias, não podemos negar essa herança. Assim, outro ponto de destaque na obra é a amplitude de sua intertextualidade.

para os poetas nada soa estranho

os três braços do rio

arrodear

pântanos de Cemtla

orgulho de viver

descansar a cabeça sobre o braço

ouvindo o som da água

heroína da metamorfose

No trecho acima, a lembrança do mito de Narciso é inevitável. Descrito na obra Metamorfoses, do poeta Ovídio, o mito fala do belo rapaz que se apaixonou por sua própria imagem ao contemplá-la nas águas de um rio. A evocação desse herói do cânone europeu, identificado com uma “heroína” junto aos “pântanos de Cemtla”, marca uma comunhão de culturas, mas também a feminilidade do eu lírico, que reivindica a pluralidade ao invés do estranhamento: o fluxo do(s) mundo(s) se espelha(m) na literatura e aos poetas nada deve soar estranho quando eles descansarem a cabeça sobre os braços desse rio de linguagens. No Canto VI, a menção ao nome de Malinche/Marina lembra a nativa de origem maia, uma nobre que se tornou escrava e que encantou Hermán Cortés, com quem teve um filho e o acompanhou como intérprete durante sua expedição pelo México. Ora representada negativamente como traidora, ora positivamente como mãe do primeiro mestiço, Doña Marina ― como é respeitosamente referida nos textos de Bernal Diaz Del Castillo ― torna-se, para essa voz feminina de Tabasco, um elemento de identificação por seu domínio de várias línguas, inclusive da língua do invasor, como uma espécie de Caliban-mulher5.

A literatura mexicana é festejada de modo particular em Tabasco, não apenas através da presença explícita do nome de um dos seus maiores poetas modernistas, Carlos Pellicer (1897-1977), mas também através de um discurso que parece irmanado com obra daquele poeta. Nascido em Villahermosa e conhecido como um viajante apaixonado, cuja poesia registra a natureza e as paisagens de sua terra, com freqüentes referências à água ― assim como no poema de Lucila Nogueira, onde o termo água(s) aparece 29 vezes, marcando na própria linguagem a inundação que recentemente devastou a terra que dá título ao poema.

Considerando as similaridades lingüísticas e socioculturais, é surpreendente que, exceto aqueles que têm interesses específicos, quase nada se saiba sobre esse país de história tão rica como é o México e, assim como os demais países da América Latina, pareça tão distante de nós, brasileiros. Os cantos de Tabasco, porém, convidam o/a leitor/a a ser conquistador/a desse “admirável mundo novo”, mas põe no lugar da conquista que separa, a conquista que congrega, celebra e rejeita fronteiras discursivas, tornando-nos novamente hermanos, através da poesia.




TABASCO: PÓS-MODERNIDADE E MITOLOGIA

André Cervinskis

O novo livro de Lucila Nogueira, Tabasco, dá continuidade ao percurso mitológico de sua poesia, presente desde seu primeiro livro, Almenara (1979) até Estocolmo (2004), bem como igualmente dá seqüência às técnicas pós-modernas que vem utilizando desde a entrada no milênio.

A impressão que me chega ao ler o volume, escrito no México e editado em 2009 pela Off Flip de Paraty, é que a autora permanece fiel a essa feliz trajetória da busca da poesia identitária, baseada nos mitos, dessa vez mesoamericanos, ao tratar da cultura dos maias e olmecas e do acontecimento apocalíptico de 21 de dezembro de 2012, quando, conforme afirmam as profecias maias, o mundo terá seu fim:

Tabasco de pé/ ainda terei tempo de dançar em tuas plantações/ assim como somos hoje/ eletrônicos e digitais/ ainda há tempo/ quem sabe sobreviveremos/ cada qual em sua Gaiola de Faraday/ protegidos por fios do telhado até o subterrâneo/ e os eclipses permanecerão durante horas/ e celebraremos a ignorância do funcionamento do sol/ 2012/ o que sabiam os maias/ o que sabemos nós/ estamos atravessando um feixe de radiação/ Tabasco/ Atlântida berço das raças americanas/ renascerás?

(NOGUEIRA, 2009, p. 39)

A civilização maia foi uma cultura mesoamericana pré-colombiana, notável por sua língua escrita (único sistema de escrita do novo mundo pré-colombiano que podia representar completamente o idioma falado no mesmo grau de eficiência que o idioma escrito no velho mundo), pela sua arte, arquitetura, matemática e sistemas astronômicos. Inicialmente estabelecidas durante o Período pré-clássico (2000 a.C. a 250 d.C.), muitas cidades maias atingiram o seu mais elevado estado de desenvolvimento durante o Período clássico (250 d.C. a 900 d.C.), continuando a se desenvolver durante todo o período pós-clássico, até a chegada dos espanhóis. No seu auge, era uma das mais densamente povoadas e culturalmente dinâmicas sociedades do mundo.

Os maias dividem muitas características com outras civilizações da Mesoamérica, devido ao alto grau de interação e difusão cultural que caracteriza a região. Hoje, os seus descendentes formam populações consideráveis em toda a área antiga (Honduras, Guatemala, El Salvador) e mantém um conjunto distinto de tradições e crenças que são o resultado da fusão das ideologias pré-colombianas e pós-conquista. Assim como os astecas e os incas, os maias acreditavam na contagem cíclica natural do tempo. Os rituais e cerimônias eram associados a ciclos terrestres e celestiais que eram observados e registrados em calendários separados. Os sacerdotes maias tinham a tarefa de interpretar esses ciclos e fazer um panorama profético sobre o futuro ou passado: a purificação incluía jejum, abstenção sexual e confissão,ela era normalmente praticada antes de grandes eventos religiosos.

Segundo os maias, o nosso mundo terminará no sábado, 21 de dezembro do ano 2012. Eles dizem que isso acontece a cada 5.125 anos. Que a terra se vê afetada pelas mudanças do sol mediante o deslocamento do seu eixo de rotação. Previram que, a partir desse movimento, haveria grandes desastres. Os Maias asseguravam que a sua civilização era a 5ª iluminada pelo sol (Kinich-Ahau), o 5° grande ciclo solar. Que antes haviam existido outras quatro civilizações que foram destruídas por grandes desastres naturais. Achavam que cada civilização é apenas um degrau para ascensão da consciência coletiva da humanidade. Para os maias, no ultimo desastre, a civilização teria sido destruída por uma grande inundação, que deixou apenas alguns sobreviventes, dos quais eles eram seus descendentes. Pensavam que, ao conhecer os finais desses ciclos, muitos humanos se preparariam para o que vinha e que, graças a isso, conseguiriam conservar sobre o planeta a espécie pensante, o seu humano.

O livro sagrado Maia, Chilam Balam, diz que, no 13° Ahau, no final do último Katún (2012), o Itza será arrastado e rodará Tanka (…as civilizações… cidades serão destruídas); haverá um tempo em que estarão sumidos na escuridão e depois virão trazendo sinal futuro; a terra despertará pelo norte e pelo poente, o Itza despertará. Reinterpretando essa profecia, e olhando para os acontecimentos recentes da Era Tecnológica, aquecimento global e desumanização da pós-modernidade, a poeta Lucila Nogueira exclama:

Meu povo sabe prever o fenômeno dos eclipses/ calendário lunar de 260 dias/ meu povo sabe registrar o tempo desde o espaço de um dia até 64/ milhões de anos...

(NOGUEIRA, 2009, p. 26)

Do materialismo à violência/ destruição dos recursos naturais/ desflorestamento e degradação ambiental/ efeito estufa/ poluição da água/ fome seca/ o retorno das doenças/ elevação do nível dos oceanos/ diminuição das calotas polares/ redução do Monte Quênia e do Kilimanjaro/ na Antártida e no Cáucaso/ onde antes só havia gelo/ começa a surgir vegetação/ delírio do consumo/ sistema financeiro/ o rumor do dinheiro de plástico em suas máquinas/ frágeis a serem interrompidas/ pela surpresa dos eventos cósmicos

NOGUEIRA, 2009, p. 37)

Sou um relógio como Kuklucan/ uma pirâmide telepática/ em direção ao sol/ eu vi a luz montada no jaguar/ eu vi o raio no centro da galáxia/ eu vi o eclipse que alterou a matéria humana/ eu vi o desequilíbrio das estações/ e a destruição das colheitas/ eu vi a onda de calor que provocou o desgelamento dos pólos/ eu vi o colapso elétrico da rede informática/ por onde navegava o mundo virtual/ eu vi o cometa que transformou de modo violento nosso planeta/ .../ eu vi a raça cósmica/ a festa cósmica/ a nova era da terceira dimensão/ Chilam Balam/ Livro sagrado maia/ começamos a entrar no salão dos espelhos/ atravessando a tempestade solar/ o aquecimento da atmosfera/ os microships param de funcionar/ a energia elétrica permanece durante a tempestade/ 2012 calendário Maya herdeiro dos Olmecas/ 21 de dezembro de 1012.

(NOGUEIRA, 2009, p. 31.32)

Os olmecas, de que trata Lucila Nogueira, foram o povo que esteve na origem da cultura olmeca, pré-colombiana da Mesoamérica que se desenvolveu nas regiões tropicais do centro-sul do atual México durante o pré-clássico, aproximadamente onde hoje se localizam os estados mexicanos de Veracruz e Tabasco, no Istmo de Tehuantepec, numa zona designada área nuclear olmeca. A cultura olmeca floresceu nesta região aproximadamente entre 1500 e 400 a.C., e crê-se que tenha sido a civilização-mãe de todas as civilizações mesoamericanas que se desenvolveram posteriormente.[2] No entanto, desconhece-se a sua exacta filiação étnica, ainda que existam numerosas hipóteses colocadas para tentar resolver esta questão (http://pt.wikipedia.org).

Assim, integrando-se completamente à cultura daqueles povos meso-americanos, Lucila se define como terra de “sete hectares”, por onde passa o “jaguar”, animal sagrado e enigmático, à margem de um “lago de crocodilos”:

Sou um poema de sete hectares/ sou um poema de sete hectares à margem de um lago de crocodilos de fogo/ sou um poema de sete hectares na tarde com sete jaguares negro-azulados/ eu vim desfrutar do campo e do voo das aves...

(NOGUEIRA, 209, p. 13)

Mas Lucila também nos presenteia, em seu livro, com uma descrição poética e peculiar da capital do Estado mexicano de Tabasco, que dá nome ao livro. Fala também das paisagens e hábitos dos habitantes da terra, com metáforas fortes e cheias de imagens belíssimas, como a do jaguar:

Eu vi o garrobo/ marido da iguana/ eu vi os nenúfares nos pântanos de Cemtla/ naveguei entre os manglares/ entre as garças tabasquenhas/ a jardineira atravessou as ruas durante a noite/ eu cantava canções de Beatles em português/ terra e águas de Tabasco/.../ Chegarei em silêncio a Villahermosa/ capital da água e da selva/ atravessarei Usumacinta/ e brilhará ao sol meu corpo nu no encontro de rios de Cemtla/ celebrarei entre as palmeiras o mistério dos adoradores do jaguar/ cantarei o segredo dos Olmecas em seu código divino...

(NOGUEIRA, 2009, p. 11)

Ao se reconhecer como mulher maia, cheia de colares e pulseiras coloridas, que soube seduzir o conquistador e domina o dom das línguas, a poeta dá voz às mães e guerreiras desse povo do jaguar, que surpreendeu os cientistas séculos depois de seu misterioso desaparecimento:

A minha máscara é de jade e obsidiana/ minhas pulseiras e colares são de âmbar/ a maior das divindades representa o meu corpo humano/ caminho de Campeche a Chiapas/ de Tabasco a Yucatan/...Não me chamo Malinche nem Marina/ mas também tenho o dom das línguas/ que seduziu o conquistador/ que um dia chorou amargamente a sua noite triste/ após destruir estátuas das divindades que desafiavam a religião do invasor/ meu corpo não tinha cidadania/../ Levanto minha máscara de jade/ minha máscara de mosaicos toda de jade/ em minha boca a pedra que simboliza a vida imortal/ meu colar é todo feito de ossos do jaguar/ o meu manto é de contas coloridas/ e eu uso os caracóis como trombetas/ para chamar desde o inframundo/ as figuras de carne e barro/ que se erguem das tumbas até os santuários de sacrifício da Guatemala

(NOGUEIRA, 2009, p. 26.27-28)

O cotidiano literário profissional de Lucila Nogueira, aliado à sua experiência de vida, vem refinando cada vez mais a sua poesia, deixando-a com resultados mais aguçados para as peculiaridades culturais dos povos latino-americanos. Vê-se que a linha pós-moderna que abraçou em deteminados livros posteriores a Imilce (2000), que considero o mais belo livro escrito por ela, nunca é abandonada, voltando a poeta, mesmo no universo das evocações mitológicas, a abordar técnicas experimentais da contemporaneidade , como notadamente em seus livros Refletores (2002), Bastidores (2002), Desespero Blue (2003), Estocolmo(2004).Conforme afirmei no ano passado, na passagem dos 30 anos de poesia da autora, em crônica literária no site de Wellington de Melo,

Lucila Nogueira, especialmente nas obras Imilce (2000) e Estocolmo (2004) vai desenvolver, com toda maestria, um poesia forte, mítica, com profundas raízes identitárias. Incorporando sua herança ibérica e o tempero da cultura brasileira, vai enxertando, em sua obra, a miscigenação poética de elementos de culturas européias, ciganas, celtas, cristãs e, evidentemente, brasileiras. (...) Na passagem dos 30 anos de carreira poética de Nogueira, fica para nós a obrigação de reverenciar autoras autênticas como ela, com uma obra original, genuína, que não tem medo de cruzar as fronteiras de nosso país. Que incorpora a força da identidade ao desejo, traduzindo-os em versos de pura magia e revelação, verdadeira fruição literária que resvala num prazer estético. Lucila Nogueira, certamente, é uma dessas autoras; carioca assumidamente nordestina, pernambucana, brasileira mas com os seus pés no mundo inteiro.

Em Tabasco, mais uma vez Lucila Nogueira encontra nas identidades étnicas latino-americanas a sua própria, vestindo-se da bela imagem da mulher maia que seduziu o conquistador espanhol.Também nós, seus leitores e admiradores, fomos seduzidos por ela, para alegria e deleite das futuras gerações que melhor se reconhecerão em seu contexto de novo mundo pós-colonial através dos versos peculiarmente bem construídos de Lucila Nogueira.

Olinda, 06 de abril de 2010

Bibliografia :

Tabasco. Nogueira, Lucila.Paraty, 2009,edições Off Flip.

Na Web :

http://pt.wikipedia.org/wiki/Maias#Religi.C3.A3o

http://www.doismiledoze.com/a-primeira-profecia-maia.

http://pt.wikipedia.org.

http://wellingtondemelo.com.br/site/2009/09/lucila-nogueira-poesia-e-identidade-universais.

Consulta em: 06/04/2010)


Tabasco


Luzilá Gonçalves Ferreira


Lucila Nogueira nunca deixa de nos surpreender. Descrevendo o universo desde a casa da infância na Rua do Lima até sua passagem por Estocolmo; pela Espanha, onde encontrou a enigmática Dama de Elche; em La Rochelle, na França; em Coimbra, na Guatemala, esta cidadã do mundo nos entrega uma poesia sensível, inteligente, leitura nova de paisagens, gentes, coisas, que descobre e nos faz descobrir, convite à partilha fraterna de experiências vividas ou imaginadas.

Tabasco, seu último livro, relato comovido de uma viagem em parte real, em parte sonhada, à América Latina, a partir de uma estada no México, retoma e relê nomes de cidades, lugarejos, civilizações, personagens, que constroem ou construíram o continente, a Malinche, Cortez, Juan Grijalva, Carlos Pellicer, Borges, Cortazar. Neles o passado é um tempo de inocência que a poesia reencontra. "Chego a Villahermosa como quem chega ao Éden primordial / e sabe do poder da água e da chuva." A história do continente é recuperada em suas dores, injustiças, mas também na beleza que conservou intacta a memória dos Maias, Incas, Aztecas.

Como imaginar a viagem daqueles que há mais de 3 mil anos chegaram de longe, atravessaram o estreito de Bering e ensinaram ao mundo "a disciplina para enfrentar a dor"? E como não se comover quando uma sábia alegria de viver é o quinhão de seus descendentes, enquanto "a liberdade chega envolta em perplexidade" do outro lado do continente onde é noite.

Tabasco foi proposto por seu editor a concorrer ao Prêmio Portugal Telecom. Uma proposta justa, que alegra os leitores dessa escritora que construiu ao longo dos anos uma obra que diz muito de nossas inquietações a todos, que nos obriga a reflexões enquanto seres humanos inseridos num aqui e agora difícil, problemático, através de uma fala exigente, rica, eficaz. Estamos torcendo por você, Lucila.

Saturday, November 28, 2009

POEMAS EM INGLÊS E FRANCÊS




MARINA NOGUEIRA MARTENSSON



















Lucila Nogueira is a Brazilian writer born in Rio de Janeiro on March 30, 1950. She is of Portuguese-Galician origin, more specifically, from Régua and Padrón. Nogueira has twenty-two poetry books and five essay books published, as well as many articles available in books and in printed/online magazines. She now lives in Recife, northeast of Brazil, and will soon have 4 of her poetry books (Ainadamar, Ilaiana, Imilce and Amaya) published in a single volume, which she refers to as Iberian Tetralogy (Tetralogia Ibérica) and represents an intercultural dialogue carried out by her Portuguese, Galician and Brazilian roots.

Lucila Nogueira is also a translator, a publisher and a short-story writer. In addition, she is a post-graduate professor in literature and linguistics at the Federal University of Pernambuco, where she teaches theory of poetry, poetry of experience and performance, theory of fiction, ideology and literature, literature of Portuguese expression in the 20th century, Hispanic-American literature, theory of genetic and psychoanalytical critics, and the autobiographical pact. To undergraduate students, she teaches Portuguese literature, Brazilian literature, literary theory, and Portuguese language.

Moreover, Nogueira has poems and short stories published in France, Spain, Colombia, Mexico, Panama and Portugal. Her book Zinganares was published in Portugal and released in 1998 at the Brazilian Embassy. Additionally, she was a resident-writer in Saint-Nazaire, France, in December 1999. In 2006, Nogueira was the first Brazilian to participate in the International Poetry Festival of Medellin, Colombia, which is considered the world’s greatest poetry festival in number participants and audience. She once again represented Brazil in the XII International Poetry Festival of La Havana in 2007, more specifically in the "XV Encuentro de Mujeres Poetas en el País de las Nubes", which took place in Oaxaca, Mexico, and where she developed a workshop of poetry for children and adolescents in different indigenous communities in Mexico. Also in Mexico, she represented Brazil in the "Encuentro Iberoamericano of Poesía Carlos Pellicer Câmara in Vila Hermosa", located in the state of Tabasco, where she made available a literary workshop of qualification for educators. During her stay in Mexico, she wrote the book Tabasco. In that same year, Nogueira was invited to be the only representative of her country in Venezuela, in the International Poetry Festival of Caracas; however, she was unable to participate due to health issues. She is currently editing in Brazil a recital-book aimed to become a trilogy together with the books written in Medellin and Havana. In 2009, she represented Brazil in the V International Poetry Festival of Granada, in Nicaragua.

Furthermore, her work was included in Antología de Poetas Brasileños (2007) edited in Madrid by the publisher Huerga y Fierro. Also in 2007, she was included in the anthology Anthologie Poétique Nantes Recife, edited by La Maison de la Poésie in Nantes in cooperation with the government of Pernambuco, Brazil. Her famous poem Rua do Lima was published in Colombia and Panama in 2007, in the anthology Las palabras pueden: los escritores y la infancia. In the same period, her short story Luz vermelha na calle Paraguai was published in Mexico by the magazine Blanco Móvil. In 2008, her book Saudade de Inês de Castro was published by Éditions Lusophone in Paris.

Nogueira also organises book editions, seminars and cultural events. For 12 years she has maintained the Workshop of Poetry and Short Story Lucila Nogueira, which is made available in several cultural institutions. Additionally, she participated in the first artistic commission of the literature prize offered by Portugal Telecom in Brazil, she is a member of the Brazilian team in the International Seminar of Lusography (Seminário Internacional de Lusografias), coordinates the Seminar of Contemporary Literary Studies (Seminário de Estudos Literários Contemporâneos)at the Federal University of Pernambuco, and was the literary curator of Fliporto - International Literary Festival of Porto de Galinhas (Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas) for 2 years, which paid tribute to Hispanic-American literature in 2007, and to contemporary African literature in 2008. Finally, she represents the north and northeast of the country in the Pen Club of Brazil (Pen Clube do Brasil), with headquarters in Rio de Janeiro.

Moreover, she has occupied the Seat 33 of the Academy of Letters and Literature of Pernambuco since 1992, and is also a member of the Brazilian Academy of Philology, located in Rio de Janeiro.

Detailed Information:

Lucila Nogueira is a poet, essayist, short story writer and translator. She has twenty-two poetry books published: Almenara (1979), Peito Aberto (1983), Quasar (1987), A Dama de Alicante (1990), Livro do Desencanto (1991), Ainadamar (1996), Ilaiana (1997-2000 2ª.ed.), Zinganares (1998 – Lisbon), Imilce (1999-2000 2ª.ed.), Amaya (2001), A Quarta Forma do Delírio (2002 - 1ª. 2ª.ed.), Refletores (2002), Bastidores (2002), Desespero Blue (2003), Estocolmo (2004-2005 2ª.ed.), Mar Camoniano (2005), Saudade de Inês de Castro (2005), Poesia em Medellin (2006), Poesia em Caracas (2007), Poesia em Cuba (2007), Tabasco (2009), and Casta Maladiva (2009).

Her first book, Almenara, received the poetry prize Manuel Bandeira from the government of the State of Pernambuco in 1978. The same prize was given again to the book Quasar, in 1986. Her book Ilaiana was released in 1998 at the Centre of Brazilian Studies (Centro de Estudos Brasileiros) in Barcelona. The book Zinganares, was also released in the same year at the Brazilian Embassy in Lisbon.

Zinganares, which was edited in Portugal, was the subject of study in the dissertation A moderna lírica mitológica de Lucila Nogueira, written by Adriane Ester Hoffmann and supervised by Professor Lígia Militz (PUC - Rio Grande do Sul, Brazil). Her book Imilce has been translated to French by Claire Benedetti (translator of Florbela Espanca, Teixeira de Pascoaes and Antero de Quental) and awaits publication. In December 1999, she was the resident-writer at the Home of Foreign Writers (Casa do Escritor Estrangeiro) in Saint-Nazaire. The book which was written in that period, A Quarta Forma do Delírio, was being translated by Claire Cayron (translator of Miguel Torga, Sophia de Melo Brayner, Harry Laus and Caio Fernando Abreu) by the time of her sudden disappearance.

Moreover, she has been translated to Spanish by the Colombian poet Elkin Obregon, the Argentinian poet Marta Spagnuolo, the Mexican poet Benjamin Valdivia, the Spanish teacher Juan Pablo Martin, and by the Brazilian writer Luiz Carlos Neves, who lives in Venezuela. Several literary critics, writers and professors in Brazil, Galicia, Spain, France, Portugal, Argentina, and Dominican Republic have discussed her work.

As an essayist, she has published Ideologia e Forma Literária em Carlos Drummond de Andrade (3ª edition in 2002), and A Lenda de Fernando Pessoa (2003). O Cordão Encarnado, her Ph.D thesis on the books O Cão sem Plumas and Morte e Vida Severina, by João Cabral de Melo Neto, will soon be published. In addition, she often writes speeches and articles on French, Portuguese, and Brazilian literature, as well as Spanish language and English language literature, which are published in printed and online magazines.

In addition, she is the director of the Seminar of Contemporary Literary Studies (Seminário de Estudos Literários Contemporâneos), which takes place at the Federal University of Pernambuco. She was also the literary curator of Fliporto - International Literary Festival of Porto de Galinhas (Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas), in 2007 and 2008, and the chief of the Letters and Literature Department of the Federal University of Pernambuco from 1998 to 1999. She has been a member of the Academy of Letters and Literature of Pernambuco since 1992, and is also a member of the Brazilian Academy of Philology, with headquarters in Rio de Janeiro. Finally, she was the Cultural and International Exchange Director of the Portuguese Cabinet of Reading in Recife, where she edited for five years the magazine Encontro, which she released at the University of Évora (Portugal), University of Porto (Portugal), and Complutense University of Madrid (Spain), presented by the professors Francisco Soares, Arnaldo Saraiva and Antonio Maura, respectively.

Nogueira is a member of the following literary associations: Associação Internacional de Lusitanistas, Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa, Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística, Associación Latino Americana de Estúdios Del Discurso, and Associação Brasileira de Estudos Medievais (ABREM). She is also a member of the editorial council for the Association of Press in Pernambuco (Associação de Imprensa de Pernambuco), and a member of the management department of the Professional Union of Writers (Sindicato de Escritores Profissionais). In addition, she has organized several cultural events, most importantly, the 2nd and 3rd International Seminar of Lusography (Seminário Internacional de Lusografias), which took place at the Federal University of Pernambuco and at the University of Évora (Portugal), respectively in the years of 1999 and 2000, and FLIPORTO - International Literary Festival in Porto de Galinhas (Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas) in 2007 and 2008.

Additionally, she was a member of the artistic commission in the debut of the Brazilian Literature Prize (Prêmio de Literatura Brasileira) given by Portugal Telecom in Brazil, and was chosen in the two following years to be a member of its national jury. Moreover, she was a member of the jury in the Binational Brazil-Argentina Prize (Prêmio Binacional Brasil-Argentina) in 2005. Nowadays, she has been translating to Portuguese the Spanish poet Pablo Del Barco, the Nicaraguan writer Gioconda Belli, and the Colombian poets Jaime Jaramillo Escobar, Victor Rojas, Juan Manuel Graze, Elkin Obregon and Luis Eduardo Rendon. In partnership with the writer Floriano Martins, she organized the anthology Mundo Mágico : Colômbia (2007), the first of a series of Hispanic-American anthologies. She has also been organizing a number of anthologies that include contemporary female writers from Spain, Latin-America, and Sweden, as well as a collection of poetry from Mozambique. Her books Ainadamar, Ilaiana, Imilce and Amaya will soon be published in what she refers to as Iberian Tetralogy (Tetralogia Ibérica), which consists of an intercultural dialogue carried out by her Brazilian, Galician, and Portuguese roots. Additionally, she has published several entries in the encyclopaedia Biblos-Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, and articles in the magazines Colóquio/Letras (Lisbon, Portugal) Cadernos de Literatura (Coimbra, Portugal) and Poesia e Crítica (Brasilia, Brazil).

Nogueira is a member of the editorial team for the online magazine Mafuá, made available by the Federal University of Santa Catarina, Brazil, and collaborated with the online magazine Agulha, which is edited by Floriano Martins and Cláudio Willer. In addition, she has given editorial counselling to the government of Recife from 1989 to 1992, publishing 40 books by different authors during that period, and has edited young and/or unpublished writers who are students in her Workshop of Poetry and Short Story (anthology: Ábaco) and students in the courses that she teaches at the Federal University of Pernambuco (anthology: Lua de Iêmen, Lua de Bengala). In 2005, Nogueira organized the book Saudade de Inês de Castro, with students and professors from Brazil and abroad, designated to the 650th birthday of the Galician martyr Inês de Castro, who is greatly celebrated in western literature. Finally, only seven of her short stories have been published to this date in the book Guia Para os Perplexos em Amaya (Bagaço, 2001), and thirty-three short stories remain unpublished.


Translation by MARINA NOGUEIRA MARTENSSON


POEMS TRANSLATED TO ENGLISH


SUDDEN FEELING

To Marina Nogueira,Cícero Belmar, Eduardo Diógenes


Because you know nothing about insomnia

do not come so unexpectedly carrying a universe of protocol sentences

and such pasteurized hygiene of tenderness

be careful and do not come too close

there is a part of me that no one has ever reached

and desperation always obliges us to believe in everything

I am becoming increasingly afraid of this sudden feeling

the water that washed away the letters in the library

is a sign that love and word demand renewal

that so much studying does not solve helplessness

and that it is still uninhabited the house who I am

I pretend to be autobiographic and reborn as a character

electroshock spasm I serve my lord

electricity cascade I serve my lord

and it is enough that your tone of voice becomes less tender

to cause me pain

like a person who selects a rocket salad

from a dark velour menu

you are sitting on an iron upholstered seat

that is already being swallowed

by the volcanic ocean of my insanity

I do not know why everything came to me so slowly and calmly

but suddenly there was that snap that click

and in the intervals of speech you did not comprehend

my reverse manner of singing blues

you did not comprehend anything

you did not realize that I am an used matchstick

forgotten in the soot with memories of the past

that life falls heavily on my bluish hair

and that for a large screen to lose its colouring it is enough that one battery wears down

that is why I come to you in a giant soap bubble

blown by a papaya tree straw from my childhood back yard

where I learnt about the night the sun the colourful crystals and the gypsy songs

from there it is enough that you touch me and I return to life

the spell and the wizard are broken

and I leave towards reality flesh that loosens itself from the pages of a book

I write about life as a sort of exorcism

I do not regret what I experience

my poetry is synonymous to my exposed skin

in the implosion of the Berlin Wall of physical sentiments

red light

empty faces

I walked through the avenue covered in algae

like an insignificant pin attracted by a magnet

and I forgot to sleep wandering on roofs

in search of the most precise words

when I finally realised that what really matters is always implicit

and now

I only need you to hear my subterranean voice

draining off beyond all superficies

although nothing in me is safe

I want you to observe with perplexity that I have style

and the melancholy of my bright eyes

nervously passing through the cosmos like a neutrino

submarine clay of seismic tremors in an empty street of a Sunday morning

today I miss company to go out and drink some wine

nothing happens and I do not know what to do to keep myself alive

nothing happens and I stay inert no regress nor departure

I need to change a life that no longer suits me

but I am tired of always being the one to take all initiatives

you did not comprehend anything

and I was just telling the truth

that suddenly I became troubled

you only read me to find your words

but I come from a race of travellers and acrobats

and a storm of lightning flashes on my delicate gestures

my body fluctuates like syllables of frozen images

and in this disarticulated oppression I desperately decide to stay silent

but I do not forget the invitation to see the stars in a Moroccan desert

cliffs

to come back here and stay awaiting destiny and chance

sentinel of nothing

and life passes by as clouds by the window

next time I will be more careful

because I know that I ruined everything previously

due to fear of facing reality

I will make a call

I will talk to you later

I can not wake up right now

do understand that I carry the longing of migrating birds

flying over mountaineers in the polar circle

because you know nothing about insomnia

and there is a part of me that no one has ever reached

and desperation always obliges us to believe in everything

I am becoming increasingly afraid of this sudden feeling



BUT DO NOT TAKE SO LONG

The body – they say – will not be the same

in its exterior reflection,

but say something about the phosphorescent caverns

where the demon’s hunger navigates

in his time of resplendence

Look at my ancient body in the fountain’s arc or in the ship’s rudder.

I am a troubled nocturne bird.

I offer you my extremely white breasts

in a secret stairway of the Caspian Sea.

Someone spoke incautiously

and the gargoyles of Notre Dame

contoured the nipples

as brief and clandestine will-o’-the-wisps.

The body – they say – will not be the same,

desperately I desire you

while I navigate through the subterraneous rocks

on the edge of human consciousness

and the crack on the atmosphere interferes with the luminous zone

right in the centre of the broken television screen.

Because at that time

love was like a drunken prince

and forcedly Hindu

it was like the hoarse voice of Dionysus

making sounds like the keys of an Austrian piano

abandoned in the red catwalk

of a carnival of feathers at Bom Jesus Street.

Intoxicated I walked through the anchorage

dragging scarlet chandeliers

through the river of neon signs

while the rain stroked the hard nipples of these breasts

always burning of so much love.

They were all too much and did not know

but when you grabbed me powerfully I became shyly surprised

and even today I am still on the run surrounded by palm trees

through the liquid roads of wine and neon.

I say that the illusion of this moment continues to be urgent

attacked by unutterable confessions.

Utopia detained in the humid cartilage,

when your mouth covers my breast once again

we will be the two other faces

of the same possession,

like a story attached to another story

while licking the sealing wax of a letter written in childhood

that was almost erased by suddenly warm water.

How to say it, in a way that you do not find it strange: refuse me

because the nude lady on the telephone could be in trance

the one which you so much aspire under the red flashlights

while rain covers the roofs at seashore.

Everything has become so urgent now

that it hurts me this immemorial wait for the dolls

laying on the dark wood

immovable but not inert

awaiting their magic performance

breaking the banality of television news.

The green satin blouse has the cleavage of a Jewish princess

assassinated nude in a concentration camp

splendid violinist, let’s go mad slowly.

The green satin blouse gives a glimpse of the dead piece of white flesh

under the light of a phosphorescent globe

rotating above dancers

who tomorrow will be invisible in Bar Royal.

Close your eyes and think about whatever you want

while our hands and lips accomplish the itineraries of mirages in a desert

while I play once again

my Austrian piano at the wharf’s sidewalk

as the sea almost breaks through the Dalinian windows of Armazém XIV.

Because the spirit has to always be the same

I challenge your preference

and the green satin blouse without my body underneath it

still has an ocean of spangles

reflecting the skin’s vibration

which inhabited it for some moments.

Gigantic dragon

demoniac tongue

clandestine union

reverse enchantment

volcanic abyss

where a music sheet came undone in notes covering the staff

that guides the cellist to the Palace of Crystal.

Close your eyes and kiss me fragilely

because everything became more urgent

from the Serralves Museum and the pink drawings of marble

Recife roads are revealed in walled skin

dreaming of the ecstasy of resurrection

Your eyes have the same glow of a knives’ shooter

while I rotate attached to the wheel over my own body

dramatically tied by strings

to the sound of Tchaikovsky in Opening 1812.

Your eyes are like a millennially gigantic bell

patrolling from the landings of Régua to the sidewalk of Copacabana Beach,

your eyes are like a Viking boat asking for harbour

from the coconut trees of Recife to the green Galician pine trees

that gave shadow to my great-grandparents' romance.



I know that you shall come under the moonlit snow

bringing a flashlight on the neck of a white horse

and you will take me by gallop wearing your cape of dark velvet

while in the abandoned circus the acrobat will continue to sleep

completely nude

in the lions’ cage.

I know that you shall come ferociously bewitched

to this kidnapping announced to make cross the waters of Capibaribe and Douro

and we will dance to the light of a seven-armed chandelier

until the sun dries off the seven skirts

that were removed to the sound of seven violins

during the seven nights of enchantment.

But do not take so long.

That loving is the art

of making oneself present

and all that which we need

is poetry,

madness and emphasis

in the heroic act of reopening doors

of the tame flesh which was blemished.

The body - they say – will not be the same

and that which was insistence can be redesigned into escape

and even us - they say - we will not be the same

in the strange instant of laser beam

in which the pleasure of the morning will arrive unannounced.



WOMAN AT SEA

(Essomericq’s Speech)

Bom Jesus Street on a Sunday afternoon

Drums and bugles

frevo and maracatu

Mother Africa

arrived chained as slave

today her face is like a stamp on my homeland

Bom Jesus Street on a Sunday afternoon

the crowd dances in the street

there I go

holy poverty in queen’s dress

there I go

your drum’s joy revives me

your bugles’ joy by the sidewalk

beheaded heads like masks

are the men who I loved

in submissive anthropophagic ritual

cannibals prior to Montaigne

are the castaways of Audierne bay

and my silence hurt you in your land oh Goneville

because it was the desperate voice of Caliban

against the occupation of the Americas

powerful Goneville

I am Carijó and I should return to my tribe

Martinho de Nantes

I am Cariri and I should return to my Recife

Villegagnon of Brittany

I am Carioca and I want to go back to Rio

to Antarctic France, to Equinoctial France

to the arms of Azenor, Levenez and Riwanon

therefore teach me to write

Jean de Léry

because I am Tupiniquim

teach me the witchcraft of the paper that speaks

French words derived from Tupi

teach me your science

Lévi-Strauss

because I am tupinambá

and I give you back your childhood

Marcel Proust

and I give you back the dream

mon Ronsard

with the spell of sugar

in the senses

I give you back

le tranquille repos de la première vie

viens dans ma chaumière

dedans il fait si bom

reste ici

and then you asked me

reste ici

and then you requested to me

un peu de bonheur

mais je suis le beau sauvage

and I have been to Nantes

oh Júlio Vernesó

to tell you

that there in Olinda

I sailed vraiment

a northeastern raft

it was the wind on my face

la tempête

it was the sun on my skin

between the ships

je suis desamparée

woman at sea

j’ai besoin de secours

woman at sea

oh brave strong wind

Pernambuco

veli corsária drifts

in the drekar

gondola canue

rabelo balandra

zambra sultana

arvingel baidar

my raft

to port

to starboard

barge of lights

lighthouse bed

the pink tower

on the verge of the quay

free from tugs

come visit

oh Goneville

Venus the prisoner

laying on the foam

of a trapeze of feathers

I am Tapuia

we are all children of Saturn

I reunite your chopped pieces

Yemanjá in day of offering

woman at sea.



VENETIAN MIRROR

I thought the poems were dead

so I opened the books with no fascination

scarlet glass on grey armour

branch of roses above snails.

what have I done to myself

frozen in the estuary

what have I done to myself

snow on the deck

board split in half

accolade to the darkness

(The light bulb interrupts the blue and white flame of the porcelain, and its reflex on the contour of the stalactites in the underwater cavern carries us without resistance to a lunar shortcut where the phosphorescent moss on the tree trunk touches our skin as velvet in an oboe concert that starts from glacier landings. Fate of brief annotation in the margins of a diary that nobody read, red vagabond in Carrara marble. An acrobat sleeps on a dromedary, and an ebony piano writes uninterruptedly our names on the sea.)

Between the silence and the trauma

of who wanted everything

nothing is expected any longer

allow me to conduct

allow me to drown

and I will not ask for anything else

to the crazy dream

that so much permitted me to fly

surrounded by unicorns I sit at the edge of the water

in the exasperating lethargy of holidays

and the shade of forgetfulness on the white horse

is the transparency of automatons in a night of masks

colourful bead on the silver thimble

Venetian mirror on the Arabian cushion

Venetian mirror with Murano glass

there will be victory if I cross the water.

to see you again

because now it all seems too late

to see you again

and erase the fury of the minotaur from the labyrinth

to see you again

your face still intangible in the blankness of language

what have I done to myself

frozen in the estuary

what have I done to myself

snow on the deck

what have I done to myself

Venetian mirror

what have I done to myself

Murano frame

red vagabond in Carrara marble

brief annotation in the margins of a diary

that nobody read

and I thought the poems were dead

because in truth we are never nothing

the wet hair, we can not take it anymore.



CHRISTMAS IN MONTPARNASSE

The enormous oval moon pours on our heads

The dark morning with an obscure force

I do not know the motive to why we enter without motive

This gigantic painting by Salvador Dalí

You and I drained in this car that paralyzes us

Highlighted are the twisted cigarettes

Please do something

Freeze our image with the remote control

It is a pity that this film will have to end

But you silently sleep in the nearby wagon

And a glass of wine does not stain the valley of Loire with blood

Misty glass inexact and sliding landscape

This is the moment in which I wish I could stay

I do not have e-mails and I do not answer letters

And a completely motionless train distances

The Christmas songs in Montparnasse



THE MOTION OF ROPES IN TUGS

The motion of ropes in tugs

European hour of a mists’ kaleidoscope

fingers like submarines in the midst of seaweed

it is not so far

from Babylonia to Jerusalem

City quay of Saint-Nazaire

the moor and set sail of ships

slow movement in motionless water

indefinite horizon in Loire

verandah between scaffolds and cranes

unexpected ecstasy of embarkations

Here I am only a foreigner

and I bring the mark of casualty

I am an outsider passer-by

and as I arrived I should leave

Here I am only a passenger

and no matter how devoted I am

I will remain an outsider

No matter how much I want you

I am farouche

and this city is only in my route

ditch wall bridge and sentinel

as I arrived I should return

Nobody will wave to me

from any window

when I leave

platonic quay of myself

metaphysical dimension of a dream

metaphor quay of the passport body

we are the ships in this night

invisible quay of resurrection.



VÖLVA I

I want the empty shelves of the dictatorship of the books

I stanza exiled in a Viking dictionary

I solitary theatre of metaphor in ruin

I clandestine angel father of Christ and João Batista

I can dislocate matter with psychic energy

I insanity in a fixated shape on the red wine glass

real life is this chance placed in view of destiny

to be alive is to surrender to the position of fortune-teller

our diva is sleeping and missing Bolivia

her taste of aniseed/cinnamon and clove/sugar/ginger

I early morning bird flying over gallows

I sacred Völva shaking paths

I protected statue of unknown gods

I diva who fell asleep while waiting in vain for the vampires

covered by an Egyptian sheet made of silk and cotton

majesty of the abandoned trapeze in the circus

I pain of the queen Urraca who was even betrayed by her own son

anonymous like the women in old friendship ballads



LUCIDOR II

He took my hand and told me in a rare language:

since the 18th century I have waited for you

standing on the deck of the ship

amid the sun and the rain death and life

under the panting discourse of the ocean

I waited for you

In hotels’ rooms of train stations

Wanting nothing else of the world

I waited for you

eyes became grey of so many tears

thinking that we have been abandoned for long

and that no power could reunite us any longer

I knew how to be life, pages of a closed book

where letters are put out and lit up in code

and that the pine trees that seem dead are reborn

shiny

because that which is going to die always protects

that which resists and will survive

however everything that is strange also seems

familiar to me

because we carry the entire present and past

inside of us

like oysters that secretly carry pearls in the

deep sea



LOSE CONTROL

I believe that my dreams are revelations

but I will keep the secret of the miracle from mediocrity

because everything was expectation and huge trepidation

some day I will return covered in seaweed to the grave in the

aquarium

giving you an impression of eternity

this poem is the metaphor of death

my corpse, baroque, in the avenue

surrounded by the living passers-by

reminisce of things lost in old circular patios

Balder’s dream

Odin suspended in a tree for nine nights

but paganism did not have missionaries

nor martyrs

do remember the Scandinavian Visigoths with their

magical fables

and because you do not know anything any longer it is necessary

that I shout in this afternoon

lose control

be as passionate as Nordic gods

dive into canals

go wild under bridges

get intoxicated

and re-emerge wet and wild

dancing completely nude in the centennial streets

because as far as one goes in freedom

there is no come back

lose control



THE COUNTRY OF BERGMAN

I wish this poem had the density of your dream

and were as concrete as the infant Bergman in Uppsala

where he learned about people’s inability

for familiar intimacy

I wish my verses translated the consolation

of anguish shut in itself

and the absence of love that lead us to poetry and

to cinema as an obsession

with the sudden blast of kept truths

silently in the lost memory

I wish our parents had held us with

greater tenderness

and perhaps we would receive smoothly the harsh

command of the social machine

with a quicker recovery in view of the cruelty

of emotional illiterates

the light which I see beyond the windowpane is the path of the sun

filtered by the vegetation

children swing outside their homes

like pendulums attracted by the clouds

and we know as we look at the flowers in the grass that heaven

and hell are only inside of us

Wild Strawberries/Shouts and Whispers/Autumn

Sonata/The Seventh Seal

grandiose in view of the misery around us was your

emphasis on human interiority

and in your country I write these words that

want to be images of our souls


(Translated by Marina Nogueira Martensson)





THE COUNTRY OF BERGMAN

I wish this poem had the density of your dream

and were as concrete as the infant Bergman in Uppsala

where he learned about people’s inability

for familiar intimacy

I wish my verses translated the consolation

of anguish shut in itself

and the absence of love that lead us to poetry and

to cinema as an obsession

with the sudden blast of kept truths

silently in the lost memory

I wish our parents had held us with

greater tenderness

and perhaps we would receive smoothly the harsh

command of the social machine

with a quicker recovery in view of the cruelty

of emotional illiterates

the light which I see beyond the windowpane is the path of the sun

filtered by the vegetation

children swing outside their homes

like pendulums attracted by the clouds

and we know as we look at the flowers in the grass that heaven

and hell are only inside of us

Wild Strawberries/Shouts and Whispers/Autumn

Sonata/The Seventh Seal

grandiose in view of the misery around us was your

emphasis on human interiority

and in your country I write these words that

want to be images of our souls


(Translated by Marina Nogueira Martensson)


POEMAS EM FRANCÊS



Lucila Nogueira (Rio de Janeiro, 30 mars 1950) est une écrivaine brésilienne. D’origine luso-galicienne, plus précisément Régua et Padrón, elle a publié vingt-deux livres de poésie et cinq essais, outre de nombreux articles dans des livres, revues imprimées et en ligne. Cette auteure brésilienne, née à Rio de Janeiro et vivant à Recife est sur le point de réunir, en un volume unique, les livres Ainadamar, Ilaiana, Imilce et Amaya, intitulé tetralogia ibérica, et qui est un dialogue interculturel, réalisé à partir de ses racines galicienne, lusitaines et brésiliennes.


Ella a vécu à Rio de Janeiro en alternant les séjours entre cette ville et Recife.

Elle est également traductrice, éditrice et conteuse, en plus de professeure de littérature brésilienne, littérature portugaise et théorie littéraire du Cours de Lettres de l’Université Fédérale de Pernambouc; en Troisième Cycle, elle développe les lignes de Littérature Lomparée, Littérature-Société-et Mémoire, Imaginaires Culturels , enseignant des disciplines telles que Théorie de la Poésie, Théorie de la Fiction, Idéologie et Littérature, Littératures d’Expression Portugaise du XX-ème siècle et Littérature Hispano-Américaine.

Son livre Zinganares fut publié et lancé à Lisbonne, en 1998, à l’Ambassade du Brésil. Écrivaine résidente à Saint-Nazaire, France, au mois de décembre 1999, ses poèmes et contes ont été publiés en France, en espagne, en Colombie, au Mexique, au Panama ainsi qu’au Portugal. Ce fut la première brésilienne à participer au Festival International de Poésie de Medellin, lors de sa XVI-ième édition en 2006, considéré comme le plus important dans le monde, par le public et le nombre de participants. Elle a également représenté le Brésil au XII-ème Festival International de Poésie de La Havane , à la XV-ième Rencontre de Femmes Poètes au Pays des Nuages, réalisé à Oaxaca, Mexique, où elle a réalisé son Atelier de Poésie et de Conte pour enfants et adolescente des communautés indigènes du Mexique ; toujours au Mexique, elle a représenté le Brésil à la IV-ième Rencontre Ibéro-Américaine de Poésie Carlos Pellicer Câmara, à Vila Hermosa, dans l’État de Tabasco, où elle a participé à un atelier littéraire de formation de professeurs, toutes ces rencontres ayant eu lieu en 2007. Le livre Tabasco fut écrit au cours de son séjour au Mexique. Cette même année, elle fut invité à être l’unique représentante de son pays au Vénézuela, au Festival International de Poésie de Caracas, où elle ne put comparaître, pour des raisons de santé, mais édita au Brésil le livre-récital, qui forme une trilogie avec ceux de Medellin et de la Havane.Enfin, elle représenta le Brésil au V-ème Festival International de Poésie de Grenade, au Nicaragua, en 2009.

Elle est inclue dans l’Anthologie de Poètes Brésiliens, éditée à Madrid en 2007 par Huerga y Fierro Editores, ainsi que dans l’Anthologie Poétique Nantes-Recife, édition de la Maison de la Poésie de Nantes, avec la Mairie de Recife, de la même année.Son Poème Rua do Lima est publié en Colombie/Panama, dans l’anthologie Las Palabras pueden : los escritores y la infancia(2007) ; publié dans le même esprit, le conte Luz vermelha na calle Paraguai au Mexique, numéro 105 de la revue Blanco Móvil.Son livre Saudade de Inês de Castro fut publié en 2008 aux Éditions Lusophones, Paris.

Elle organise des éditions , des congrès et des evènements culturels. Elle anime depuis douze ans l’Atelier Lucila Nogueira de Poésie et de Conte, développé en modules dans plusieurs institutions. Elle a participé à la première commission artistique du prix de Littérature de Portugal Telecom et fait partie de l’équipe brésilienne du Séminaire International de Lusografies, coordonne le Séminaire d’Études Littéraires Contemporaines dans son université et fut pendant deux années Curatrice Littéraire de la Fliporto (Fête Littéraire Internationale de Porto de Galinhas, au Pernambouc), qui en 2007 a rendu hommage à la littérature hispano-américaine et en 2008 à la littérature africaine contemporaine. Elle est membre et représentante pour les Régions Norte et Nordeste du Brésil du Pen Clube do Brasil, dont le siège est à Rio de Janeiro.

Elle occupe le Fauteuil n° 33 à l’Academia Pernambucana de Letras, depuis mars 1992 et est membre-correspondante de l’Accadémie Brésilienne de Philologie, dont le siège est à Rio de Janeiro.


Lucila Nogueira est poétesse, essayiste, conteuse,critique et traductrice. Elle a vingt-deux livres de poésie publiés, qui sont: Almenara (1979), Peito Aberto (1983), Quasar (1987), A Dama de Alicante (1990), Livro do Desencanto (1991), Ainadamar (1996), Ilaiana (1997-2000 2ª.ed.), Zinganares (1998 – Lisboa), Imilce (1999-2000 2ª.ed.), Amaya (2001), A Quarta Forma do delírio (2002 - 1ª. 2ª.ed.), Refletores (2002), Bastidores (2002), Desespero Blue (2003), Estocolmo (2004-2005 2ª.ed.), Mar Camoniano (2005), Saudade de Inês de Castro (2005) , Poesia em Medellin (2006),Poesia em Caracas(2007), Poesia em Cuba (2007), Tabasco (2009) et Casta Maladiva (2009).



Son premier livre, Almenara, obtint le prix de poésie Manuel Bandeira du Gouvernement de l’État du Pernambouc, l’année 1978 – ce prix lui fut à nouveau attribué pour le livre Quasar, en 1986, année du centenaire du poète moderniste pernamboucain. Ilaiana fut lancé au Centre d’Études Brésiliennes de Barcelone, en 1998; Zinganares, à l’Ambassade du Brésil à Lisbonne, également en mars de cette même année



Ce dernier ouvrage, édité au Portugal, fut l’objet d’une thèse “Le lyrisme mythologique moderne de Lucila Nogueira”, soutenue par Adriane Ester Hoffmann, à la PUC du Rio Grande do Sul, sous la direction de la professeure Lígia Militz (Edições Livro-rápido,2007). Imilce a été traduit en français par Claire Benedetti (tradutrice de Florbela Espanca, Teixeira de Pascoaes et Antero de Quental), et attend d’être publié. Lucila fut écrivaine-résidente de la Maison de l’écrivain Étranger à Saint-Nazaire, en décembre 1999; le livre qu’elle y a produit au cours de ce séjour, A Quarta Forma do Delírio, était en cours de traduction par Claire Cayron (tradutrice de Miguel Torga, Sophia de Melo Brayner, Harry Laus et Caio Fernando Abreu), j’usqu’à la disparition soudaine de la traductrice.


En espagnol, elle est traduite par le poète colombien Elkin Obregon, la poétesse argentine Marta Spagnuolo, le poète mexicain Benjamin Valdivia , le professeur espagnol Juan Pablo Martin et l’écrivain brésilien établi au Vénézuela Luiz Carlos Neves. Plusieurs critiques, écrivains et professeurs se sont déjà penchés sur son oeuvre, que ce soit au Brésil, en Galice, en Espagne, en France, au Portugal, en Argentine et en République Dominicaine.

Comme essayiste, elle a publié Idéologie et Forme Littéraire chez Carlos Drummond de Andrade ( 3ª édition en 2002), La Légende de Fernando Pessoa(2003) et encore en imprimerie O Cordão Encarnado, sa thèse de doctorat sur les livres “ O Cão sem Plumas” et “ Morte e Vida Severina” , de João Cabral de Melo Neto. Elle écrit régulièrement conférences et articles sur la littérature brésilienne, portugaise, française, de langue espagnole et de langue anglaise, qu’elle publie dans des revues imprimées ou en ligne, en plus des annales des congrès auquels elle participe.


Elle est professeure de Troisième Cycle en Lettres et Linguistique de l’Université Fédérale du Pernambouc, où elle enseigne des disciplines telles que Théorie de la poésie, Poésie de l’Expérience et de la Performance, Théorie de la fiction, Idéologie et Littérature, Littératures d’Expression Portugaise du XX-ème siècle, Littérature Hispano-américaine, Théorie de la Critique Génétique et Psychanalitique, Théorie du Pacte Autobiographique ; en Second Cycle, Littérature Portugaise (Chaire dont elle est titulaire), Littérature Brésilienne, Théorie de la Littérature et de le Langue Portugaise (Portugais Instrumental).Elle a participé à plusieurs Jurys de troisième cycle et concours publiques dans d’autres États , et est constamment présente au congrès et colloques pour y aborder les auteurs de la période médiévale aux contemporains..

Elle dirige le Séminaire d’Études Littéraires Comtemporaines dans son institution d’enseignement. Elle fut Curatrice Littéraire de la Fête Littéraire Internationale de Porto de Galinhas - FLIPORTO dans les années 2007 et 2008. Elle a dirigé le Département de Lettres de 1998 à 1999. Elle membre de l’Accadémie Pernambucaine de Lettres depuis 1992 et membre – correspondante de l’Accadémie Brésilienne de Philologie, dont le siège est à Rio de Janeiro. Elle fut Diretrice Culturelle et d’Échanges Internationaux du Cabinet Portugais de Lecture do Recife, où elle a édité pendant cinq ans la Revue de Lusophonie Encontro, pour laquelle elle a promu des lancements dans les universités d’Évora, Porto et Complutense de Madrid, avec la présentation des professeurs Francisco Soares, Arnaldo Saraiva et Antonio Maura, respectivement.


Elle est membre de l’Association Internationale des Lusitanistes, de l’Association Brésilienne des Professeurs de Littérature Portugaise, de l’Association Nationale du Troisième Cycle Universitaire et de Recherche en Lettres et Linguistique, de l’Association Latino-Américaine d’Études du Discours et de l’Association Brésilienne d’Études Médiévales (l’ABREM). Elle fait partie du Conseil Éditorial de l’Association de Presse du Pernambouc ainsi que de la Direction Culturelle du Syndicat des Écrivains Professionels du même État brésilien. Elle organise des événements culturels, parmi lesquels il convient de souligner les II-ième et III-ième Séminaires Internationaux de Lusographies, réalisés à l’Université Fédérale du Pernambouc et à celle d’Évora, en 1999 et en 2000, respectivement, sans oublier la Fête Littéraire Internationale de Porto de Galinhas, en 2007 et 2008, déjá mentionnée.

Elle a rejoint la Commission Artistique pour son édition inaugurale du Prix de Littérature Brésilienne de Portugal Telecom, étant élue deux années consécutives pour participer au jury national; elle a également participé à la commission d’attribution du Prix Bi-national Brésil-Argentine en 2005. Elle traduit vers le portugais le poète espagnol Pablo Del Barco, l’écrivaine nicaraguayenne Gioconda Belli et les poètes colombiens Jaime Jaramillo Escobar,Victor Rojas,Juan Manuel Roca, Elkin Obregon et Luis Eduardo Rendon. Elle a organisé, conjointement à l’écrivain Floriano Martins, l’Anthologie du Monde magique: Colombie (2007) la première d’une série d’anthologies de poésie hispano-américaine. Elle organise à l’heure actuelle es anthologies de femmes auteures contemporaines en Espagne, en Amérique Latine et en Suède, outre un recueil de poésie du Mozambique.

Divulgatrice en réciprocité d’auteurs portugais et brésiliens contemporains, elle développe le projet “ Tradition et Modernité chez Dalila Pereira da Costa et Luiza Neto Jorge”. Sont actuellement en phase de réunion en un volume unique les livres Ainadamar, Ilaiana, Imilce et Amaya, la tétralogie ibérique, qui constitue un dialogue interculturel réalisé à partir des racines galicienne et lusitaines de l’auteure brésilienne née à Rio de Janeiro et résident à Recife. Elle a publié plusieurs notes dans la Biblos-Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, en plus d’artivles dans les revues Colóquio /Letras (Lisboa) Cadernos de Literatura (Coimbra) et Poesia e Crítica (Brasília).

Elle appartient au Conseil Éditorial de la Revue Électronique “Mafuá”, de l’Université Fédérale de Santa Catarina et a collaboré avec la revue électronique “Agulha”, éditée par Floriano Martins et Cláudio Willer. Elle a travaillé comme Consultante Éditoriale pour la Mairie de Recife de 1989 à 1992, réalisant, sur cette période, la programmation de quarante livres ; elle édite des ecrivains jeunes et/ou inédits, qu’il s’agisse d’élèves de son Atelier Littéraire de Poésie et de Conte(Recueil “Ábaco”) ou d’élèves du Cours de Lettres où elle enseigne (Recueil “lua de Iêmen, Lua de Bengala”).En 2005, elle a organisé le livre Saudade de Inês de Castro, avec des élèves et des professeurs brésiliens et étrangers, marquant les 650 ans de la martyre galicienne si célébrée par la littérature occidentale.

Premiére femme à représenter le Brésil au XVI-ième Festival Internacional de Poesia de Medellín(2006), à la suite duquel elle participa au Festival International de Poésie de La Havane (2007) ainsi qu’à la XV-ième Rencontre de femmes Poétesses au Pays des Nuages (2007), à Oaxaca, auo Mexique, où elle est intervenue par des lectures de poésie et son Atelier Littéraire de Poésie et de Conte, représentant à nouveau le Brésil dans ces pays, en février 2008, au Festival International de Poésie de Tabasco, Villahermosa, avec un atelier de poésie pour la formation de professeurs, ainsi que la lecture de poésie, depuis les instituts culturels jusque sur les marchés publics.Elle a trente-trois contes inédits n’en ayant publié, à ce jour, que sept dans le livre Guia Para os Perplexos em Amaya (Bagaço, 2001).





I M I L C E


(Poème pour quatre voix)


LUCILA NOGUEIRA

traduit par

Claire Benedetti



Acte I

I (Imilce)

On dit que je suis devenue folle
par ta faute, Hannibal
dès que tu m’as abandonnée
dans les ténèbres
on dit que je suis devenue folle
et maintenant j’avance
le regard fixe
exorcisant la guerre.


Ton corps s’est perdu
en chemin
j’attends encore le retour
de tes gestes
me souvenant de notre amour
que de tendresse
ce feu tatoué
sans retour.


On dit que je suis devenue folle
parce que je t’espère
en rêvant de tes mains
sur mon corps
on dit que je suis devenue folle
parce que j’implore
rien que ta bouche sur mes seins
sur mon feu


Lorsque régnait la paix
tu m’étendis
sur ta couche lunaire
sous des cyprès
lorsque régnait la paix
tu murmurais:
le vin de ton sommeil
est ma prière.



On dit que je suis devenue folle
car je veux
juste embrasser ce talisman,
présent de toi,
on dit que je suis devenue folle
parce que la fièvre
de tes paroles me hantent
inoubliables


l’amour sèche mes lèvres
tout se brûle
l’amour ressemble à un ivrogne
dans la neige
livré au bleu du songe
sur le toit
jouant un air de luth
il m’harcele


mon corps
est un brasier d'arômes
mes yeux
sont des parterres d’émeraude
mes lèvres
sont l’Etna et le Vésuve
mes seins
ont d‘argent des cordillères


des colonnes de cèdre
sont mes jambes
et des arches d’ivoire
sont mes bras
retourne à mes prodiges
commandant
et viens voir mon chemin
au feu des vagues


et à Tarse reviens
mon tendre amant,
je vois déjà la chute
des Romains
car ils succomberont
après le Christ
hébreu
crucifié au calvaire

regarde mon visage
reflété
par les cristaux et miroirs
de tes armes
je vois la trahison
en Crète et à Tyr
ta mort en Bithynie
je vois si clair


méprise le trépas
mon tendre Hannibal
notre amour vaut bien mieux
qu'une mort héroïque
et le serment
que tu as fait à Hamilcar
tu pourras l'accomplir
en terre d'Espagne.


On dit que je suis devenue folle
en assistant
à ton futur à ton passé
dans mon sommeil:
au plaisir et à la beauté
ne permets-tu
de gouverner ta vie
de soldat?


J’aurais voulu le monde
comme un cierge
qui brûle sans blesser
dans le sanctuaire
j’aurais voulu le monde
comme un nid
où les peuples
dormiraient sans armes.


On dit que je suis devenue folle.
Je suis Imilce
la vierge d’Orétanie
visionnaire
j’ai séduit Hannibal
et notre fils
un jour doit grandir
peuple de Castulon.

II (fils d’Hannibal)

Lorsqu’elle devint folle
nul ne me dit
que l’amour
est une lame à deux faces
que les parents
sont un fragile territoire
et les enfants
sont cendres d’un naufrage.


Lorsqu’elle devint folle
qui sait l’heure
fatale
où elle perdit le jugement?
Si ce fut
quand mon père partit aux Alpes
ou quand
simplement il l’aima?


Mon pauvre père
qui jamais ne revint
pauvre de moi
qui ne vis son visage
d’argent
sur la monnaie de Carthagène
ni sur le buste
en bronze du Maroc.


Je n’eus point de foyer
ni de père pour guide
pour m’enseigner
la tâche d’être un homme
ma mère hallucinée
elle répétait
ses visions
à grands cris vers l’horizon.




Je n’eus point de foyer
mais la sagesse
du monde
se déposa sur mes épaules:
cet aigle invisible
m’accompagne
partout où sont mes pas
en terre d’Espagne.


Si mon père fut un héros
c’est qu’il mourut
dans son combat
contre l’Empire des Romains
mais tout continue
comme avant
seuls ont changé
les noms des tyrans.


Mais tout continue
comme avant
la destruction des hommes
par les hommes:
et ma terre exploitée
et les miens
qui meurent
comme s’ils n’étaient rien.


Et les autels allumés
dans la comédie
des dieux
qui peuplent l’ignorance
qui se voudrait
plus forte que la misère
qui croit
aux forces surhumaines.


Et les autels allumés
dans la tragédie
du rituel sanglant
des enfants
des fils sacrifiés
sans pitié
pour un dieu
dont rien n'étanche la soif.

Quel dieu créa les dieux
de cette terre
sur cet Olympe
invisible sur les monts
et comment, si l’on croit en Dieu,
fait-on la guerre
sans craindre
la vengeance d’un géant?


si blancs les coquillages
et les étoiles
du ciel ou de la mer
sont si parfaites
les plantes verdoyantes
m’attendrissent
et me bercent
les sons de la Nature


Je tiens entre mes mains
des mots si tristes
secrets que je cachai
sous mon bouclier
são cartas de meu pai
venues de guerre
que j’ai trouvées
dans une jarre dorée


Ma mère
sans savoir ce que c’était
les mélangea
avec des herbes et des parfums
nul ne les vit jamais
jusqu’à ce qu’un jour
j’en rêve
en écoutant le miroir rouge


c’était un miroir pourpre
où je lisais
des mots d’une autre langue
m’appelant
des mots qui en silence
dissolvaient
leur écho
après m’avoir tout révélé

Des mots
qui ce vase évoquaient
oublié
tout là-haut sur le toit
que j’ai tant contemplé
sans savoir
qu’ils gardaient en secret
un sanctuaire.


Qui les rassembla
je ne sais:
Imilce était devenue folle
elle marchait
toute seule
au milieu des palmiers
tenant
dans chaque main un chandelier


De jour comme de nuit
la brûlante flamme
ne liquéfiait
le verre de son âme
errante
marche en des cercles parfaits
des pierres des cristaux
des soliloques.


Je ne sais qui les protégea
mais ils m’appartiennent
par le sang et pour le courage
de les arracher à
l’oubli.
Hannibal, je les ferai connaître
au peuple
que tu perdis mais ne sauvas.

Et voici que les centurions
nous envahirent
et comme la peste
ils se propagèrent
cet éternel fléau
d’avant le Christ
ensanglantant une Europe
châtiée.


eternelle la triste loi
sur la vie
éternels l'État
et le Droit:
les masques de la force
l'ignominie
des ses princes
des putes et des soldats.


De cruels centurions
nous envahirent
uniquement
pour te mettre en déroute
suivant la loi des armes
si terrible
ils copièrent
nos rites et nos dieux.


Sans imagination,
jusqu’au messie
des juifs
ils décrétèrent la foi romaine
sans imagination
tant de magie
ils crucifièrent
en son nom.


Ma mère
vit des flambeaux sur les chemins
et des gens sur la croix
dans les flammes
elle vit des personnages
aux coiffes étranges
et dit dans sa folie:
l'Inquisition.


ma mère
vit des guerriers différents
qui s’en allaient
vers l’Afrique et l’Asie
et qui luttaient
contre les Maures de l’Orient
et dit dans sa folie:
des croisades.


On dit qu’elle est devenue folle.
Et la prophétie
se perd
dans le mystère de ses ailes
mais tes lettres
mon père, je les garde
et le monde
va entendre tes paroles.


III (Hannibal)

J’ai lutté contre les Romains
douce Imilce
croyant au leurre de sang
des combats
pour éviter au monde
le mal étrange
que je voyais en songe
et en silence.


J’ai lutté contre les Romains
et pour cela
j'arrêtai notre amour
en son zénith
pardonne mon départ
et demande à mon fils
pardon
si j’ai cru en cette victoire


je promise à mon père
le grand Hamilcar
à l’époque
où je n'avais que neuf ans
et la race
de la parole à accomplir
trahit
le codicille des Romains.


J’ai lutté
contre ce qui pourrait changer
le monde
en un spectacle sanglant
la vie
en une vénale bureaucratie
et le peuple
en un convoi d’automates.



J’ai lutté
car j’avais prévu limites
légalisées
par une langue étrange
je n’ai point convoité
richesses d’ailleurs
j’ai lutté
par amour pour toi, terre d’Espagne.


Terre qui es mon foyer
mon peuple ibère
mon pays
où j’ai vécu seize ans
où j’ai appris
à me battre comme soldat
et où un jour j’ai aimé
au désespoir


Je t’adorai, Imilce,
et toi le même
dans notre étreinte
aucune stratégie
notre couche
était une mer déchaînée
je ne fus pas moins amant
que soldat


Longtemps
j’ai voulu revenir
et de longues années
je fus fidèle
d’innombrables esclaves
et des reines
s’offraient à moi
mais je les méprisai.


Seul ton corps je me rappelais
et tes yeux
la couleur
de ces palmiers de Carthage
ta douceur
et ta flamme incomparables
ton amour océan
sur ma nef.


J’ai entendu ta voix
en traversant
les monts des Pyrénées
vers l’Italie
j’ai entendu ta voix
en ordonnant
mes plans d’attaque
aux enemis


J’ai entendu ta voix
juste au moment
de la victoire
sur le lac Trasimène
dans les cris d’agonie
je me souviens
ton plaisir
infini sur ma couche.


Un jour j’imaginai
ne m’aime plus
sans huile ne peut vivre
cette flamme
un jour je réfléchis
un prince ibère
reprend
le peu que Carthage a donné.


Ô palmiers de Carthage
et d’Orétanie
dites au monde entier
ne m’aime plus
ô pavement d’argent
ô sanctuaire
ma déesse hispanique
ne m’aime plus.


Le destin me fit
partir de Castulon
et la guerre
l’a soustraite à mes bras
j’entends encore
sa voix au point du jour
me suppliant
de l’emmener dans les Alpes.

Ô palmiers de Carthage
et d’Orétanie
je veux l’ivresse
de ton vin de dattes
ô pavement d’argent
ô sanctuaire
Imilce
n'aime plus le triste Hannibal.


La couleur de ta chevelure
au point du jour
je me rappelle ton parfum
sur ma couche
les caresses étoilées
de ta peau
douce comme des pêches
humaines


Imilce sœur du roi
aux longues tresses
de toi fut amoureux
comme un enfant
ici j’appris la force
de mon rêve
ici mourut mon père
en terre d’Espagne.


Orison secourut
le peuple d'Elche
venant de Castulon
avec tant d’hommes
ici naquit mon fils
en Orétanie
je laisse ici
mon nom à l’horizon.


Orison secourut
le peuple ibère
venant de Héliké
armes d’Orétanie
alors mourut mon père
dans ce fleuve
qui un jour sera sec
à cause de cette infamie.

Il me faudra partir
te dis-je un jour
bien après
le défi de Sagonte
je lutterai à tes côtés
me disais-tu
seul mon fils demeura
sur cette terre.


Il doit grandir ici
sous le soleil d’Hercule
en rêvant à Carthage
à l’île de Malte
d’où on dit que je vins
dans ce mystère
que ma mère a joué
au coeur du feu.


IV (mère de Hannibal)

Dans ma vie
j’ai vu mourir mari et fils
de moi rien ne diront
les historiens
de moi
disparaîtra même mon nom
j'ai mis fin à mes jours
en Alicante.


Hamilcar
je me livrai à ce destin
de femme de soldat
et commandant
en t'aimant
je t’accompagnai en chemin
dans les nuits si solitaires
du Levant.


La parole punique
sur mes lèvres
la pourpre
pêchée autrefois
les lions crucifiés
de Carthage
les femmes
oubliées aux palais.


Nebal de mon rêver
corde incessante
cabiros
à la salive de volcans
nebal de mon rêveur
je fus esclave
toute femme qui aime
perd pied.




J’ai délaissé
mes joyaux sur la terrasse
et j'ai dansé
sur les éléphants, les murailles,
j'ai suivi
les charmeurs de serpents
Nebal de mon rêver
en guettant l’amour


candélabre allumé
soleil humaine
dans les fabriques de pourpre
et d’argent
j'ai chevauché
ma fantaisie hébraïque
dans la langue cananéenne
de mes pères.


L’ambre
le safran les violettes
santal et spirées
dans les bras
j'ai retiré ma tunique
mouillée
et nue je t'ai servie
Hamilcar Barca.


Pleine de Cheveux-de-Vénus
et verveine
Brasiers de sandaraque
mandragores
je descendrai en dansant
dans ces grottes
et rencontrerai
Thessalie et Samothrace.


J’exerce mon talent
parmi les encensoirs
je déchiffre doucement
les équinoxes
les tapis de Babylone
qui gardent
leur parfum
au dessous des léopards.

Je vois partir les colombes
de Carthage
de l’Etna et d’Eryx
les combats
souvenirs de la Sicile
bien aimée
en un seul jour
qui devint sombre vers le soir.


Je me couche sans toi
avide amant
sur le lit
fait de palmes bien tressées
dans la douceur
de mon manteau de soie
je me couche sans toi
avide amant.


Et je suis toute arôme
en cet instant
les perles de sandastre
à mes cothurnes
je porte des disques d’or
aux mes oreilles
qui reflètent ma gorge
embrasée.


Rien de moi ne diront
les historiens
rien sur le soleil
ni l’eau pure
rien sur cet amour
de tous ces femmes
qui solitaires s’embrasent
à la folie.


Rien de moi
recluse en mon palais
puissante reine
réduite en esclavage
Hamilcar
je garde ta mitre assyrienne
et aussi tes cris d’homme
dans ma chambre.


Tu revins de Sicile
je fus si riche
de ta présence à la maison
près de tes fils
c’est alors que tu t'en allas
en Espagne
emmenant Hannibal
à neuf ans


pour fonder un nouveau royaume
et me laissas
à l’ombre
des immenses sycomores
à l’ombre
des palmiers et des acacias
à l’ombre
de mes songes solitaires.


Je veux imiter la danse
des étoiles
si lascive et mystique
sur un autel sacré
transparence de voile
qui s'éploie
démarche de serpent
et voix d'oiseau.

Tunique mauve
sous le glaive
couronne de sel gemme
et toge sombre
oh murailles de pourpre
pauvres prêtres
oh dieu
hermaphrodite de Carthage.


Acte II

V (Le délire d’Imilce)

Maintenant je comprends
que tu m’as délaissée
en chevauchant
des lions des éléphants
maintenant je comprends
que tu m’as délaissée
sur la terre
où j'ai choisi ta légion.


J’avance
luttant contre la pesanteur
c’est plus
que je n’en pouvais supporter
mon corps
vit la mort qui es d'un autre
la vie
n’est qu’une chanson de transmigraire


la mort est une retraite
et un retour
eau de la même source
verticale
maintenant je comprends
que tu m’as délaissée
parce que tu n’es pas mort.
Et je suis seule.


Le vent
qui a déchaîné tout mon pensée
a desséché
les feuilles sur les marches
et ce désordre en moi
elle te perturbe
ma voix silencieuse
te fait mal.












Ce que je dis
je n’en ai pas conscience
c'est l'instinct
de la poésie oraculaire
et une secousse électrique
exquise
m’ordonne
de cheminer sans cesse.


Le délire soudain
me submerge
et je vois des images
à l'état naturel
ce sont les voiles
d’un navire dans la tempête
ou des enseignes
au son du clairon matinal


Mon pensée
il est partout le routes
pour moi tout le réel
est cette vision
les âmes ne se touchent pas
comme la chair
mais leur forme
transmigre dans le son.


Le monde
est un théâtre à l’abandon
avec mon cri sauvage
au clair de lune
maintenant je comprends
que tu m’as délaissée
car je n’ai pu te suivre
au soleil.


Aimer ne suffit point:
il faut aussi le dire
pour retenir son amant
sur le seuil
mon cœur
a des airs printaniers
dans l'espoir de te voir
il trouve la lumière.


Mon esprit
est un tournesol tournoyant
dans l'ivresse
immense insatiable
dans la ronde millénaire
de Babylone
dans la dévotion extatique
au songe.


Mon image
se dissout travers le soir
ma jeunesse est passée
et je suis seule
existence sans vie
dans le vide
vivre me désespère
cependant.


Les morsures de narval
ne cicatrisent
la mollesse de cire
des blessures
je vis dans une lumière
qui efface le jour
marchant sur des traces
plus inconnues.


Désir de m’envoler
au point du jour
dans le tunnel des girandoles
de la chair
désir de m’envoler
aux cordillères
sur les rayons
des ramages de ce bleu


je sens les liaisons
les plus invisibles
du système nerveux
de la galaxie
le lait des volcans
orne de rosée
les torches géométriques
du sommeil


et l’œil qui en jaillit
fut insensé
en spirale
dans le feu du dragon
en cercles je tournai
dans un autre corps
car j’étais de moi-même
une vision.


Je me refuse à endurer
tant de souffrance
je déclare au destin
qu’il s’est trompé
j’entends encore ses pas
dans la maison
tandis qu'ils traversaient
le corridor.


J’entends encore ses pas
dans la maison
aussi parfait qu’un dieu
c’est ainsi qu'aujourd'hui
j’ai peur
de la violence des paroles
peur de la prophétie
qui est en moi.


Que peut-on dire
lorsqu'un amour s’achève?
Qu’est-ce que la folie
qu’une mutinerie ?
C’était mon compagnon
mon bien-aimé
que de choses il accomplit
pour moi seule


Il partit sans retour
Hannibal Barca
que de choses il accomplit
pour moi seule
je me refuse à endurer
tant de souffrance
je me souviens du temps
où j’étais si heureuse.


Et qu’est-ce que la folie
sinon le souvenir
de ce qui s’est perdu
sans se chercher
et qu’est-ce que l’amour
sinon cette folie
qui tente
de construire l’éternité?


Maintenant je comprends
que tu m’as délaissée
je parle toute seule
en ce jardin
maintenant je comprends
que tu m’as délaissée
je me souviens du temps
où j’étais si heureuse.


Mais que peut-on dire
lorsque l’amour s’achève?
Et qu’est-ce que la folie
qu’une mutinerie?


VI (Mère de Hannibal)

Je nie l’ordre civil
je nie le pouvoir
je vais boire ce vin
sur les récifs
je nie l’empire
les rois et le gouvernement
je ne crois qu’en l’amour
et aux miracles.


Et la force de nier
fait de moi une déesse
s’élevant jusqu’aux cieux
à l’heure du naufrage
et la force de nier
fait de moi une déesse
bouleversée
absurde et insensée.


Je préfère le suicide
à la captivité
comme les Celtes
les Thraces et les Sarmates
je préfère le suicide
et la guérilla
marquera
ce pays de montagnes.


Ma mort
c’est la mort de la ville
j’en fus avertie
par un songe
ma mort
c'est la mort d’une race
la marque de mon peuple
est l’holocauste











Didon n’a pas laissé d’enfants:
Carthage seule
descendante
légitime de Tyr
les chiffres de l’éléphant
sur son front
Didon abandonnée,
visage de l’Afrique.


Parmi les flammes
elle déclame son destin
depuis Chypre
jusqu’au sol qui l’enchante
jamais nul ne saura
rien de ma vie
plus je fus reine
plus je fus esclave.


Je parle la première langue
d’alphabet
je porte en moi
la soif et les mirages
j’irai jusqu’au pays
des Garamantes
en rapportant
des émeraudes et calcédoines.


Il y a presque mille ans
que nos ancêtres
arrivèrent à Cadix
dans cette Espagne
Gades Gadir
et là-bas échangèrent l'argent
pour les trésors fabuleux
de l’Orient


Je suis les colonnes
qui supportent le monde
je suis les pas
des vivants et des morts
je suis le lait
des mères sacrifiées
je suis ces jeunes hommes
morts au fil de l’épée.


J’inverserai les cieux
à cet instant
et un feu jaillira
de ma rage
et je me vengerai
même si je vacille
je suis celle qui blesse
et qui soigne.


Et maintenant
à la société je renonce
je devance
cette exclusion qui me confond
et maintenant
je célèbre la solitude
dans le mépris
de toutes ces voix qui m’entourent.


Ma vie:
un dialogue de sourds
ma chair:
une matière à métaphores
ô dieux du ciel,
est-il un combat juste?
les armes
sont-elles une marque de vertu?


VII (Hannibal)

Pour me mettre en déroute
il fallut
la trahison servile
d’un autre africain
pour me mettre en déroute
tant de batailles
et la peur absolue
des Romains.


Pour me mettre en déroute
tant de chemins
parcourus en Europe
tant de peuples
Indibilis résista :
il fut détruit
ses hommes
décimés en pleine révolte.


Mon ombre à l’entrée
c’est ton remords
et les lames du vent
sur mon visage
effet de la passion
qui t’enivre
ô vous femmes de marbre
dans mes rêves.


Si tout ce qui est entier
demeure
ce qui est fragmenté
s'effondre
je passai au-delà
d’une passion humaine
et mon cercueil de verre
t’accompagne.









Je vais rêver tout haut
à ma chute
ma légende sanglante
ma solitude
tout homme isolé
ne vaut rien
moi j’ai choisi
le ciel des multitudes.


A côté du Liban
les hommes de pourpre
Sidoniens du désert
de Canaan
remparts de Jéricho
la Palestine
la Syrie la Sardaigne
Malte et Gozo


Edifier un nouveau royaume
folie vaine?
A neuf ans je jurai
de haïr Rome
la rencontre avec les Hellènes
d’Orient
Sosylos et Silène
c’est ma faute.


Point n’ai voulu la possession
du monde
comme Alexandre
l'empire universel
j’ai lutté pour le chant
d'indépendance
des peuples massacrés
par les Romains.


Tous ces peuples de l’ombre
je les ai protégés
les peuples de l’Orient
asservis
humiliés
sans armes exterminés
la république de Rome
ma blessure.

Le fleuve Euphrate
frontière du destin
qui donc pourra franchir
le Rubicon?
Rien qu’un château de cartes
cet empire
et les textes des Etrusques
où sont-ils?


L’empire des Hittites
des Phrygiens, des Lydiens
des Illyriens et des Nuraghes
les Phéniciens
ennemis des Grecs
et de Rome
le monde méditerranéen
détruit.


Etrange décadence
de monde antique
en perdition battu
par Hannibal
Seconde Guerre Punique
et à Zama
le monde a perdu son éclat
et sa poésie


monde de Babylone
et d’Assyrie
de Sumer et d’Egypte
anéanti
Juifs de l’Inde
Chinois et Abyssins
et les premiers chants
des bédouins.

Rouleaux de papyrus
et tablettes d’argile.
Tes caresses
étaient mes prodiges,
tes caresses
mon tendre armistice,
tes caresses
mon seul royaume.


Tes caresses
en Bithynie je me rappelle
tes caresses
plus douces que le vin
tes caresses
langueur et frisson
tes caresses
l'empire des dieux.


Dans les cités d’Orétanie
tes caresses
dans les mirages de l’Ebre
tes caresses
dans les palmeraies de Munda
tes caresses
parmi les oliviers de Castulon
tes caresses


Au soleil des Roches Noires
tes caresses
à l’ombre de Mentissa
tes caresses
sur les terrasses d’Iliturgis
tes caresses
Guadalquivir
repu de tes caresses.


Mémoire solitaire
d’un guerrier
perdu dans la défaite
de l’exil
Imilce, douce Imilce
ma compagne
aux caresses plus douces
que le vin.


VIII (Imilce)

J’avance
luttant contre la pesanteur
c’est plus
que je n’en pouvais supporter
ma tête
est un tournesol de lames
c’est plus
que je n’en pouvais supporter.


Je me refuse
à endurer tant de souffrance
c’est plus
que je n’en pouvais supporter
j’ai peur
de la violence des paroles
c’est plus
que je n’en pouvais supporter.


IX (Fils d’Hannibal)

Quand je la vis
nébuleuse sur les montagnes
errante avec son ombre
sur les flots
sur les harpes
éoliennes du puits
quand je la vis
parallèle à jamais


j’aimai
son univers si différent
son regard
perdu dans la brume
j’aimai
les océans les continents
que la douleur
avait gravés sur son visage.


j’aimai
la géométrie de l'alphabet
secret
sur la carte de ses rêves
j’aimai
le rayon vert du talisman
que le soleil
reflétait sur son corps.


Un jour
elle détacha sa chevelure
brûlant
mes mains sous ce déluge
et je tremblais,
je frissonnais, je renaissais
découvrant
la beauté dans la folie











une statue
au milieu des palmiers
nuage prisonnier
des arbres sombres
absente d’elle-même
elle se regarde
étrangère
à la conscience plus profonde.


Elle avance
entre les blasons en triangle
jusqu’à ce que la nuit
lui soit trop lourde
immobile
parmi les dessins du feuillage
elle tient dans ses bras
l'amphore d’argile.


Sous les arches de paix
la tempête
ses pensées nues
affolant les oiseaux
la sibylle oubliée
des oracles
pieds-nus
dans les miroirs de la saudade.


Caryatide
couronnée de lierre
vêtue de désert
de divinité
je la vis
glisser sur le promontoire
quand le vent
se levait dans les voiles.


Je la vis
telle un bateau-fantôme
irréelle
comme le sol et ses rivages
étrangère
à tout ce qui n’était pas son voyage
pays livré
au labyrinthe du naufrage.

Je la vis
caressant des licornes
son feu
s’allumait s’éteignait
ses pieds
blessés par les rochers
je la vis
contre le vent dans les acacias


les vagues
déferlant sur le mât
la chevelure
au cristal miroitant
vigie
pendant son quart interminable
je la vis
aussi nue qu’un oiseau sauvage.


Sculpture
de l’attente obstinée
dessin divisé
d'une seule âme
fantôme
dans la brume de son image
je la vis
se confondre avec le paysage


je la vis
dans les ruines d’elle-même
dans le son
de la première partition
dans la châsse vitrée
la plus absente
je la vis
sereine solitude absolue


j’en devins amoureux alors
passionnément
et elle m’aima
entre deux accès de folie
elle me donna
sa vraie mélancolie
et le silence
des âmes taciturnes.


Elle me donna
la profondeur de cette extase
de la férocité
à la douceur
ô dame hallucinée
infiniment
rien que pour moi
chante ta folie.


X (final) (Aníbal)

J’ai lutté contre les Romains
douce Imilce
croyant
au leurre des combats
pour éviter au monde
le mal étrange
que je voyais
en songe en silence.


J’ai lutté contre les Romains
c’est pourquoi
je mis fin à l'amour
en son zénith
pardonne mon départ
et demande à mon fils
pardon
d’avoir cru en cette victoire.

(Fils d’Hannibal)

Ma mère
vit des flambeaux sur les chemins
et des gens sur la croix
dans les flammes
elle vit des personnages
aux coiffes étranges
et dit dans sa folie:
l'inquisition.


Ma mère
vit des soldats différents
qui partaient pour l’Afrique
et l’Asie
lutter
contre les Maures de l’Orient
et dit dans sa folie:
sont croisades.


(Mère d’Hannibal)

De moi
même mon nom disparaîtra
rien de moi ne diront
les historiens
sur mon lit
de palmes bien tressées
plus ne s’allonge auprès de moi
mon cher amant


ce lion crucifié
de Cartaghe
traversé
par la passion d'Espagne
il a ravi mon fils
en ses neuf ans
à l’ombre
des sycomores géants.


C’est alors
que je m’en remis au destin
de femme de soldat
de commandant
jusqu’à mêler
mon feu aux flammes
sur les rochers
humains d'Alicante.


(Imilce)

Mon corps
est un brasier d’arômes
mes yeux
sont des étoiles d’émeraude
mes lèvres
sont l’Etna et le Vésuve
mes seins
des cordillères d’argent.


Des colonnes de cèdre
sont mes jambes
et des arches d’ivoire
sont mes bras
retourne à mes caresses
commandant
viens marcher
sur le feu et sur l'eau.

(Hannibal)

Seul ton corps je me rappelais
seuls tes yeux
de la couleur
de ces palmiers de Carthage
ta flamme incomparable
ta douceur
ton amour:
océan sur ma nef.


de la couleur de tes cheveux
le point du jour
je me rappelle
ton embrasement sur ma couche
un tourbillon d'étoiles
ta peau
douce à mes lèvres
comme un voile de dattes.


(Imilce)

Mon corps
est un brasier d’arômes.

(Hannibal)

De la couleur de tes cheveux
le point du jour.

(Imilce)

Mes lèvres
sont l’Etna et le Vésuve

(Hannibal)

Je me rappelle
ton embrasement sur ta couche.

(Fils d’Hannibal)

Mon pauvre père
qui jamais ne revint
pauvre de moi
qui ne vis jamais son visage
d’argent
sur la monnaie de Carthagène
ni sur le buste
en bronze du Maroc.


(Imilce)

Je me refuse
à supporter tant de souffrance
c’est plus
que je n’en pouvais supporter
j'ai peur
de la violence des paroles
c’est plus
que je n’en pouvais supporter

(Fils d’Hannibal)

Mon père
à quoi bon cette mort héroïque
en luttant
contre l’Empire des Romains
tout a continué
comme avant:

(TOUS)

SEULS ONT CHANGÉ
LES NOMS DES TYRANS.




UNE MYTHOCRITIQUE DU LIVRE "IMILCE", DE LUCILA NOGUEIRA
André Caldas Cervinskis



La relation entre la mythologie et la littérature est ancienne et nous renvoie aux classiques. Toutefois, la mythanalyse, inspirée du terme psychanalyse de Freud, consiste à circonscrire les grands mythes directeurs des moments historiques. Durand suppose que chaque époque possède son mythe dominant, servant de modèle à la totalité de l’imaginaire. Ce serait, finalement, le diagnostique des mythes qui dominent une civilisation déterminée à une prériode déterminée.

Professeur, depuis plusieurs années, du Département de Lettres de l’Université Fédérale du Pernambouc, elle est l’auteur de nombreux ouvrages connus, parmi lesquels "Almenara", pour lequel elle a reçu son premier prix littéraire (Prix Manuel Bandeira, Gouvernement du Pernambouc, 1978); "La dame d’Alicante" (1979); "Zinganares" (1998), ainsi que d’autres ouvrages de critique littéraire. De par les titres, nous pouvons percevoir son intérêt pour le thème ainsi que sa dédication à reprendre et travailler la mythologie, ibérique en particulier. Le livre, à vrai dire, un poème à 4 voix, d’un peu plus de 90 pages, est un chant de tristesse et de déchirement des femmes et des enfants des soldats qui partent pour la guerre, à toutes les époques. Il évoque également les conflits politiques qui enchaînent les tragédies humaines, comme dans toutes les guerres. Les personnages en sont Hanníbal, la mère d’Hanníbal, le fils d’Hanníbal et Imilce. Il est intéressant de voir que seuls les amants ont leurs noms dévoilés. Comme si l’auteur avait voulu souligner la douleur et le dilemme des femmes qui aiment et attendent le retour de l’être aimé.

Comme pour mieux situer la trame, l’auteur s’efforce de reprendre dans toute son extension l’Empire Romain et Carthage; ainsi les noms de lieux tels que la Crète, Tyr, la Bitinie, Chypre, l’Espagne, Cástulo, le Maroc, les Pyrénées, les Alpes, l’Orétanie, Malte, Alicante; mais aussi les peuples antiques: romains, maures, grecs, apparaissent fréquemment dans le texte, chaque lieu montrant la puissance de l’Empire Romain et le destin que le résultat des Guerres Puniques allait imposer au monde: la domination pratiquement universelle de l’Empire Romain dans l’antiquité. Tout le texte, d’après Durand (1989, p. 148), contient, de façon sous-jacente, un mythe. Imilce ne possède pas de mythe de forme sous-jacente, mais de forme émergente. Nombreuses sont les références aux mythologies judéo-chrétienne (au pied du Liban/ les hommes de pourpre/ sidon du désert/ Canaan/ les murs de Jérico - p 77) et gréco-romaine (chevelure de Vênus et Verbène - p. 48); mais il y a aussi des références à d’autres mythologies spécifiques, telles que l’ibérique, des gitans mêmes d’époques spécifiques, telles que l’inquisition et les croisades: ma mère a vu des bûchers sur le chemin (...) et a dit dans sa folie: inquisteurss (p.96);elle a vu des soldats différents (...) lutant/ contre les maures de l’oriene/ et elle a dit dans sa folie:/ ce sont des croisades (p. 96). Les mythologies gréco-romaine et chrétienne ont incorporé des éléments empruntés aux autres mythologies, promouvant un syncrétisme culturel qui a fait renaître, dans des habits neufs, des mythes antiques: Maria - Ísis, Gaia, Apollon - Elias et les prophètes etc.

Une autre récurrence dans Imilce, comme dans dans toute l’oeuvre de Nogueira, est la présence d’éléments de la nature: (Imilce): ce sont des colonnes de cèdre, mes jambes..(14);elles sont si blanches, les étoiles / celles du ciel, ou de la mer... (p. 24). Cette nature est traversée par des éléments magiques, parfois dans une claire référence à l’ésotérisme/occultisme: (fils d’Hannibal): ...Le verre de ton âme / errante / faisant des cercles parfaits et des pierres et des cristaux / et des soliloques. (P. 27); ma mère / sans savoir qui elles étaient / les a mêlées / aux herbes et aux parfums... c’était un miroir de pourpre / où je voyais / des mots d’autres langues qui m’appelaient...(p. 25); Imilce deviendra folle / portant dans chaque main / un chandelier. (p.26); (Hannibal): je veux le sortilège de ton vin de dattes... (p.40). Les cercles, renvoyant à l’éternel mouvement spiral de l’univers, qui meurt et qui renaît, est commun aux différentes mythologies, y compris le candomblé brésilien.

La présence d’arbres dans le lyrisme est également significative, en particulier des palmiers, des sycomores et des oliviers: ... de la couleur de ces palmiers de Carthage... (p.37); Palmiers de Carthage et d’Orétanie... (p.39); ... à l’ombre des sycomores / géants / à l’ombre / des acacias et des palmiers... (p.52). Les palmiers sont souvent des arbres géants, intacts, qui attirent l’attention des passants, atteignent les dieux par leur hauteur, et sont donc symboles de grandeur et de transcendance. L’olivier est un arbre biblique; on en tire l’huile d’olive, très importante pour la culture juive. C’est avec elle que l’on fait le pain azyme, sans levain ( au passage de la veuve de Sarepte d’Élie); l’huile d’olive fut aussi utilisée pour oindre rois et prophètes et guérir le samaritain de la parabole biblique. Elle unit donc l’humain et le divin. Les sycomores sont des arbres sous lesquels les juifs se reposaient; Jésus a rencontré Philppe sous un sycomore; David également se reposait sous un sycomore lorsque Samuel l’appela pour être roi. C’est la rencontre de l’individu et de son destin. Ainsi, aucun symbolisme n’est plus approprié que celui-là pour expliquer le besoin de transcender les difficultés de l’épopée des personnages du livre, Hannibal Barca en particulier.

Le caractère héroïque de l’oeuvre est est mis en évidence par la mention explicite d’Hercule, le demi-dieu grec qui a défié Zeus: ici il doit grandir / au soleil d’ Hercule ... (p.43). Le soleil, symbole de force et de détermination, qui inspire de nobles sentiments - les semi-dieux, fruits des amours des dieux avec des humains, étaient de nature humaine, mais avec des pouvoirs divins. En général, ils étaient protagonistes d’odissées. L’aigle également, symbole de bravoure: (fis d’HAnnibal); ... cet aigle invisible / m’ accompagne / où que j’aille / en Espagne (p. 21) (...) sans craindre/ la vangeance d’un géant. Maria Zaira Turchi (2003, p.33), dans son livre Litéerature et anthropologie de l’imaginaire, affirme que l’imagination diurne adopte une attitude héroïque, énergie libidinale positive, qui augmente l’aspect ténébreux, ogresque et maléfique de la face de Chronos, en endurcissant les antithèses symboliques, à travers la figure ascensionnelle et limuneuse du héros avec ses armes, afin de combattre la menace nocturne. Hannibal Barca, général carthaginois, part en guerre contre les Romains, laissant son épouse et son fils de 9 ans (NOGUEIRA, p.33-5): (Hannibal): J’ai combattu les Romains, douce Imilce / J’ai cru a l’appât de la bataille; j’ai luté contre ce que j’ai vu transformerait le monde en un spectacle de sang; j’ai lutté parce que je t’aimais, sol d’Espagne. Pour me vaincre, il aura fallu / la trahison servile de l’autre africain (idem, 75). Les femmes, non moins héroïques, envisagent courageusement leur destin de souffrance et de désaroi: (mère d’Hannibal): dans la vie / j’ai vu mourir mon mari et mes enfants (p.45); ... femmes oubliées dans les palais; (...) toute femme qui aime / perd la tête (p. 46); (Imilce): je comprends maintenant / que tu m’as abandonnée / chevauchant éléphants et lions ... (p.57). Le fils d’hannibal lui-même est touché par l’ambiance guerrière: ma mère / a vu des soldats différents / partant pour l’Afrique et l’Asie... (p. 96).

Imilce est poésie de feu et de lumière. Nombreux sont les passages qui font référence implicite ou explicite au feu, au soleil, à la lumière: (voix d’Imilce): l’amour me sèche les lèvres: tout bout (p.13); mon corps est un brasier de parfums, mes lèvres l’Etna et le Vésuve (p. 14); viens me voir marcher dans le feu sur les eaux (p. 15); je désirais le monde comme un cierge ardent (p. 17); (voix du fils d’Hannibal): les fils sont les cendres d’un naufrage (p. 19); et les autels allumés dans la comédie des dieux (p.22); ... portant en chaque main un chandelier... (p.26) il faisait jour et il faisait nuit / et la flamme allumée... (p.27); ma mère / a vu les brasiers sur les chemins... (p.30);... Tant de feu ne vit pas sans l’huile... (p. 38);... que ma mère a jeté dans le feu... (p43). Le feu de Prométée qui illumina Athènes, malgré la colère des dieux de l’Olympe. Dans la mythologie judéo-chrétienne, plus proche de notre époque, le feu est utilisé dans les rituels de purification: elles succombront / après le Christ / hébreu / crucifié dans un calvaire. (p.15); ...j’ai chevauché / ma fantaisie hébraïque / dans la langue de Canaan / de mes parents (p.47); lions crucifiés de Carthage (p. 46) Dans la liturgie catholique, la flamme est utilisée comme symbole du baptème. L’enfant reçoit la lumière du Christ par l’intermédiare de la bougie; le cierge pascal est allumé pendant cinquante jours à l’occasion du temps pascal; les fidèles allument également une bougie pour leurs morts ou pour prier leurs saints protecteurs. Mais Lucila est à la recherche d’un feu magique, sacré: (Imilce): ..il .a brûlé / mes mains sous la pluie (p.88); son feu s’allumait et s’éteignait ... (p.91), comme la buisson ardent de Moïse, dans l’épisode de l’Exode hébreu. Lieux sacrés et rituels sont d’ailleurs une constante dans ses vers: je veux imiter la danse / des étoiles / lascivité mystique / sur l’autel sacré... (p. 53); ó chaussées d’argent, ó sanctuaire ... (p.39); et les autels allumées / dans la tragédie (p. 23).

Mais les héros, comme dans de nombreux récits classiques, ne concluent pas toujours leur dessein: (fis d’hannibal): mon pauvre père / qui ne revint jamais (...) je n’ai jamais vu son visage / d’argent / sur la pièce de monnaie à Carthagène / ou sur le buste / de bronze du Maroc (p.102); mon père, triste héroïsme que d’être mort (p. 103). Un tel dénouement fait émerger chez Imilce la peur de la force des mots (p. 102). Finalement, la poétesse conclut son livre par une constation qui nous rend tristes: Ils n’ont changé / que les noms des tyrans.
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