Sedução estética é a força que rege poemas de Lucila
Desespero Blue, novo livro da poeta, tem noite de autógrafos hoje, no Instituto Maximiano Campos, e marca uma fase mais solta em sua obra
Pelas cores de Pedro Almodóvar e de Frida Kahlo, pela velhice safada de Bukowski, pelo suicídio de Sylvia Plath, pela solidão de Eleonor Rigby, aquela da música dos Beatles. Esses são alguns dos passeios poéticos que Lucila Nogueira faz em seu Desespero Blue, que tem noite de autógrafos hoje, no Instituto Maximiano Campos. O livro ‘amarra’ a transição para uma fase literária mais ‘solta’ (nas suas palavras), que ela começou a tramar em Refletores.
Lucila gosta de dizer que Desespero Blue é bem menos ‘histérico’ do que Refletores, porém ele continuar batendo nas mesmas teclas do antecessor – angústia amorosas, vida noturna e cultura pop. A falta de amarras da autora pode ser exemplificada por versos que revelam a busca por uma sinceridade indispensável: “Cansou da delicadeza e bateu o telefone/ porque tudo enfim já fora tanto e demasiado/ uma vida de visões como uma endecha errante/ uma rainha louca sobre a página em branco.”
O melhor de Desespero Blue, no entanto, está no exercício de colagens que Lucila faz de versos alheios, em um processo de ‘ladroagem poética’: “disse Bukowski/ ver o touro vencer o matador é o melhor/ disse Bukowski/ os recitais de poesia e os concertos de rock são o pior/ disse Bukowski/ a vida gira sobre um eixo apodrecido/ somos todos uns pássaros agonizantes/ e a maioria dos poetas são mesmos cisnes.”
Em outro bom exemplo dessa ladroagem, ela reconstrói a raiva e a sexualidade latente presentes em Sylvia Plath: “Disse Sylvia/ estes poemas não têm vida: triste diagnóstico/ estou chapada e enjoada depois do último sonífero/ e você pifou como um rádio velho/ eu podia sentar numa rocha e me pentear/ a gente podia se ver na outra vida/ mas nem no seu paraíso Zen a gente vai se cruzar.”
Desespero Blue termina com Sentimento Súbito, um poema longo e formalmente livre do resto no livro, no qual Lucila volta a ressaltar sua independência de protocolos e regras, também – mesmo que Desespero Blue soe como um cerebral exercício de sedução estética. (S.C.)
(© Jornal do Commercio-PE 25.09.2003)
Desespero Blue, novo livro da poeta, tem noite de autógrafos hoje, no Instituto Maximiano Campos, e marca uma fase mais solta em sua obra
Pelas cores de Pedro Almodóvar e de Frida Kahlo, pela velhice safada de Bukowski, pelo suicídio de Sylvia Plath, pela solidão de Eleonor Rigby, aquela da música dos Beatles. Esses são alguns dos passeios poéticos que Lucila Nogueira faz em seu Desespero Blue, que tem noite de autógrafos hoje, no Instituto Maximiano Campos. O livro ‘amarra’ a transição para uma fase literária mais ‘solta’ (nas suas palavras), que ela começou a tramar em Refletores.
Lucila gosta de dizer que Desespero Blue é bem menos ‘histérico’ do que Refletores, porém ele continuar batendo nas mesmas teclas do antecessor – angústia amorosas, vida noturna e cultura pop. A falta de amarras da autora pode ser exemplificada por versos que revelam a busca por uma sinceridade indispensável: “Cansou da delicadeza e bateu o telefone/ porque tudo enfim já fora tanto e demasiado/ uma vida de visões como uma endecha errante/ uma rainha louca sobre a página em branco.”
O melhor de Desespero Blue, no entanto, está no exercício de colagens que Lucila faz de versos alheios, em um processo de ‘ladroagem poética’: “disse Bukowski/ ver o touro vencer o matador é o melhor/ disse Bukowski/ os recitais de poesia e os concertos de rock são o pior/ disse Bukowski/ a vida gira sobre um eixo apodrecido/ somos todos uns pássaros agonizantes/ e a maioria dos poetas são mesmos cisnes.”
Em outro bom exemplo dessa ladroagem, ela reconstrói a raiva e a sexualidade latente presentes em Sylvia Plath: “Disse Sylvia/ estes poemas não têm vida: triste diagnóstico/ estou chapada e enjoada depois do último sonífero/ e você pifou como um rádio velho/ eu podia sentar numa rocha e me pentear/ a gente podia se ver na outra vida/ mas nem no seu paraíso Zen a gente vai se cruzar.”
Desespero Blue termina com Sentimento Súbito, um poema longo e formalmente livre do resto no livro, no qual Lucila volta a ressaltar sua independência de protocolos e regras, também – mesmo que Desespero Blue soe como um cerebral exercício de sedução estética. (S.C.)
(© Jornal do Commercio-PE 25.09.2003)
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