Tuesday, November 18, 2008

Painel Geração 65 : Saudade de Sérgio Albuquerque


Lucila Nogueira, José Mário Rodrigues, Marina Nogueira Martensson,Cyl Gallindo,Lucilo Varejão Neto, Ângelo Monteiro, Natália Nogueira de Albuquerque, Almenara Triana Nogueira de Albuquerque e Raphael - dia 8 de novembro, sábado às 15 horas,Porto de Galinhas


EVOCANDO SÉRGIO MOACIR DE ALBUQUERQUE


Sílvio Soares da Silva
Antropólogo e Professor Universitário
e-mail silvio.soares@uol.com.br


Convivi e ainda convivo com muitos dos integrantes da chamada Geração 65. Geração formada por talentosos e expressivos artistas desde o início de sua constituição. Romancistas, poetas, pintores, jornalistas, que souberam romper fronteiras e conseguiram se impor com a bandeira nova e criadora que desfraldaram em época politicamente difícil vivida pelo país, com acentuados reflexos em Pernambuco. A minha ligação com os componentes do grupo foi, sobretudo, de fraternal amizade. Procurei, de alguma maneira, colaborar com eles divulgando quase tudo que faziam em suas diferentes formas de expressão artística, em coluna que assinei por alguns anos no Diário de Pernambuco. Aliás, foi o Diário que começou a acolher, em meados da década de 1960, nas páginas do respectivo “Suplemento Literário”, pelas mãos do poeta César Leal, seu editor, trabalhos dos integrantes de um grupo que Tadeu Rocha, cuidadoso historiador literário, chamou num feliz instante de Geração 65.


Dentre os integrantes dessa rica e discutida geração estava Sérgio Moacir de Albuquerque: amigo, poeta, romancista, ensaísta e pintor tão sensível às coisas do Brasil, da nossa região e principalmente do Recife, cujo perfil recordo em trabalho que enviei para o recente Fliporto. Fomos colega de turma no Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco. Sentávamos lado a lado na sala de aulas.


Dos vários companheiros, os mais próximos de nós eram Cyl Gallindo, Marcos Albuquerque, Maria Célia de Azevedo e Felícia, de quem nunca mais tivemos notícias e que deixou em todos nós a marca profunda do seu espírito de luta e liberdade, que tanto cultivava. Cyl Gallindo, integrante da Geração 65, se tornaria um dos grandes promotores da nossa vida literária, sendo autor de uma antologia intitulada Agenda Poética do Recife, que congrega dez poetas e dez artistas plásticos pernambucanos, reconhecida por Audálio Alves como tendo sido aquela oportunidade a primeira vez que um grupo de artistas locais tão expressivos foi reunido em livro. Gallindo é poeta e ensaísta de fôlego, com uma obra intelectual que enriquece a nossa literatura, literatura esta que também recebe importante contribuição de Raimundo Carrero, a quem conheci na Faculdade, onde vez por outra aparecia o romancista de A história de Bernarda Soledade: a tigre do sertão, para um bate-papo entre amigos.

Sérgio Moacir de Albuquerque logo iria estudar na França. Após seu retorno ao Recife publica um sugestivo romance, Irene, e se casa com a escritora Lucila Nogueira, participante da Geração 65 e um dos nomes mais importantes da poesia pernambucana. Este casamento deu-lhe três filhas: Natália, Marina e Almenara.

Lembro-me de uma determinada aula em que um certo professor, erudito de alto prestígio e de grande reputação intelectual nos círculos acadêmicos, questionado por Sérgio sobre tema polêmico que estava expondo, e que teve na seqüência outros tantos questionamentos formulados por Marcos Albuquerque e por mim, encerrou a aula antes da hora, nos acusando de perturbadores da ordem. Apesar disto, Sérgio não era polêmico. Na realidade, ele sempre expunha, em ocasiões oportunas, uma fina e discreta ironia, que perturbava, entretanto, o interlocutor.

( PUBLICADO NO DIÁRIO DE PERNAMBUCO, A 5 DE DEZEMBRO DE 2008)

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