EU AOS SEIS ANOS NA PRIMEIRA COMUNHÃOLucB
Rua do Lima
á memória de minha avó Lucilla
I
Esses dias de chuva lembram sempre
as tardes de leitura no sobrado
viagens na cadeira de balanço
comendo um alfenim iluminado
João Pé-de-Feijão, Gato de Botas
Pele de Asno, Gata Borralheira
A Bela Adormecida, a Moura Torta
e eu era Alice atravessando espelhos
os olhos muito verdes no silêncio
a avó dormindo, a empregada muda
a escada o corredor a travessia
pelos mares da infância absoluta
União, Cabugá, Gervásio Pires,
murmúrio das galochas sobre a água
a capa, o guarda-chuva e era mais triste
no colégio o recreio emparedado
esses dias de chuva lembram sempre
o cágado nadando no alagado
quintal de uma criança dividida
além de Botafogo e Santo Amaro
a Rua Caimurano, o realejo
parado na Voluntários da Pátria
e eu ia visitar na Real Grandeza
minha avó portuguesa e seus canários
anúncios coloridos pelo bonde
Phymatosan, Juvenia, Gato Preto
tudo era cheiro de lança-perfume
e a escuridão do túnel meu segredo
a bica no terraço, a queda d’água
seu cântico perene e a Serpentina
Gigante que arremessa quando chove
um sol no meu cenário de menina.
II
Visões obstinadas me seguiam
da porta do sobrado para o sono
as roupas penduradas na parede
me olhavam como espíritos na sombra
e a umidade escorria das paredes
rumo às cores geladas do assoalho
só não era sombrio e indiferente
o carrossel de vidro sobre o aquário
eu tinha um avental azul e branco
e uma lancheira pendurada ao braço
dois laços de organdi entre os cabelos
e estrelas escondidas no meu quarto
um cristal onde eu via o arco-íris
vara de pegar manga-rosa e espada
o ímã que atraía os alfinetes
os discos portugueses de saudade
os bambus e as roseiras no canteiro
minha avó como eu tão delicada
e o dia em que no sótão alguém disse
querer jogar-me no Capibaribe
letreiros luminosos sobre o rio
eu sentada no ônibus “Cidade”
e na volta da escola ao meio-dia
o jogo de operários na calçada
número cento e dois, Rua do Lima:
casa tão pequenina e tão gigante
por onde foi crescendo essa menina
fada de Peter Pan tocando o sonho.
III
Ninguém sabia que eu era poeta
nem mesmo a noite com seu mar de mágoas
ninguém notava no meu dia-a-dia
a sensibilidade alucinada
mundo que eu tanto olhava e não me via
humanidade: foto congelada
assustando a passagem da alegria
na criança abstrata e solitária
versos adolescentes, eu vos amo
Colégio São José, Rua do Lima
Parque Treze de maio, já não brinca
na calçada a pobre menina rica
atravessei a vida entontecida
olhando para trás, levando quedas
fada feérica em fulgor de febre
amarrada ao noturno das comédias
festim feroz, feriu-me a fera fria
e o corpo que era etéreo se fez carne
carne desmesurada, carne viva
perplexa e indefesa carne alada
carne desesperada, estremecida
rebelde da paixão fragmentada
carne deusa do sonho e da magia
a razão se confessa tua escrava
Pó de Pirlimpimpim, Terra do Nunca
esses dias de chuva me recordam
e eu que sou luz vulcânica entristeço
mar de melancolia em plena mágoa.
á memória de minha avó Lucilla
I
Esses dias de chuva lembram sempre
as tardes de leitura no sobrado
viagens na cadeira de balanço
comendo um alfenim iluminado
João Pé-de-Feijão, Gato de Botas
Pele de Asno, Gata Borralheira
A Bela Adormecida, a Moura Torta
e eu era Alice atravessando espelhos
os olhos muito verdes no silêncio
a avó dormindo, a empregada muda
a escada o corredor a travessia
pelos mares da infância absoluta
União, Cabugá, Gervásio Pires,
murmúrio das galochas sobre a água
a capa, o guarda-chuva e era mais triste
no colégio o recreio emparedado
esses dias de chuva lembram sempre
o cágado nadando no alagado
quintal de uma criança dividida
além de Botafogo e Santo Amaro
a Rua Caimurano, o realejo
parado na Voluntários da Pátria
e eu ia visitar na Real Grandeza
minha avó portuguesa e seus canários
anúncios coloridos pelo bonde
Phymatosan, Juvenia, Gato Preto
tudo era cheiro de lança-perfume
e a escuridão do túnel meu segredo
a bica no terraço, a queda d’água
seu cântico perene e a Serpentina
Gigante que arremessa quando chove
um sol no meu cenário de menina.
II
Visões obstinadas me seguiam
da porta do sobrado para o sono
as roupas penduradas na parede
me olhavam como espíritos na sombra
e a umidade escorria das paredes
rumo às cores geladas do assoalho
só não era sombrio e indiferente
o carrossel de vidro sobre o aquário
eu tinha um avental azul e branco
e uma lancheira pendurada ao braço
dois laços de organdi entre os cabelos
e estrelas escondidas no meu quarto
um cristal onde eu via o arco-íris
vara de pegar manga-rosa e espada
o ímã que atraía os alfinetes
os discos portugueses de saudade
os bambus e as roseiras no canteiro
minha avó como eu tão delicada
e o dia em que no sótão alguém disse
querer jogar-me no Capibaribe
letreiros luminosos sobre o rio
eu sentada no ônibus “Cidade”
e na volta da escola ao meio-dia
o jogo de operários na calçada
número cento e dois, Rua do Lima:
casa tão pequenina e tão gigante
por onde foi crescendo essa menina
fada de Peter Pan tocando o sonho.
III
Ninguém sabia que eu era poeta
nem mesmo a noite com seu mar de mágoas
ninguém notava no meu dia-a-dia
a sensibilidade alucinada
mundo que eu tanto olhava e não me via
humanidade: foto congelada
assustando a passagem da alegria
na criança abstrata e solitária
versos adolescentes, eu vos amo
Colégio São José, Rua do Lima
Parque Treze de maio, já não brinca
na calçada a pobre menina rica
atravessei a vida entontecida
olhando para trás, levando quedas
fada feérica em fulgor de febre
amarrada ao noturno das comédias
festim feroz, feriu-me a fera fria
e o corpo que era etéreo se fez carne
carne desmesurada, carne viva
perplexa e indefesa carne alada
carne desesperada, estremecida
rebelde da paixão fragmentada
carne deusa do sonho e da magia
a razão se confessa tua escrava
Pó de Pirlimpimpim, Terra do Nunca
esses dias de chuva me recordam
e eu que sou luz vulcânica entristeço
mar de melancolia em plena mágoa.
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